Projeto iniciado por estudantes também promove momentos de discussão sobre a inclusão de pessoas com deficiências no ambiente escolar e na sociedade
Como promover uma educação realmente inclusiva? Foi a partir da chegada do primeiro aluno cego do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul que esse questionamento ficou ainda mais latente na escola, dando espaço para a criação do projeto Braile Básico, finalista da 5ª edição do Desafio Criativos da Escola, em 2019.
Em 2018, Victor e os amigos abriram uma turma com 15 participantes com carga horária de 24 horas. Em 2019, dobraram a quantidade de vagas, abertas para toda a comunidade, aumentando a visibilidade das pessoas com deficiência visual na região.
As aulas iniciais do curso visam apresentar a história do braile e sua importância para as pessoas cegas. Na sequência, o conteúdo é mais técnico com o ensino do alfabeto em braile. No fim do processo, os participantes já são capazes de escrever frases completas e realizam até uma prova final sem consulta.
Muito além do Braile
O projeto tem impactado não só os participantes do curso, mas também a gestão da escola. Segundo os meninos, a iniciativa melhorou a relação entre os alunos e a proposta agora é seguir abrindo mais vagas para sensibilizar novos estudantes, o corpo docente e demais funcionários.
Para o aluno Jean, no entanto, o curso vai muito além do braile. Em todas as aulas são reservados, ao menos, 30 minutos para debater assuntos voltados à inclusão. Os estudantes ensinam como fazer uma audiodescrição, como se realiza a mobilidade e também apresentam as mais diversas modalidades esportivas destinadas a pessoas cegas. O curso conta ainda com um material assistivo, que inclui jogo da memória, cubo mágico, entre outros materiais.
“Eu acho que é importante aprender o braile, mas o mais importante é ver que as pessoas estão mais conscientizadas sobre a inclusão. A inclusão anda lado a lado com braile e nós fazemos o melhor possível para que as pessoas a entendam e que coloquem ela em prática”, conta Jean.
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“Acredito que as pessoas ficaram mais atentas. Com a minha participação, perceberam que as pessoas cegas também podem fazer muitas coisas”, diz orgulhoso Victor, que acredita que a ação também tem transformado aqueles que serão futuros pedagogos e procuraram o curso. “Ter esse contato com uma pessoa com deficiência sem dúvida te abre os olhos para discutir essa questão, porque é uma coisa na qual as pessoas não têm muitas informações”.
Levantamento inédito do Datafolha, encomendado pelo Instituto Alana, revela que aproximadamente nove em cada dez brasileiros acreditam que as escolas se tornam melhores ao incluir crianças com deficiência. O levantamento ouviu mais de 2.074 pessoas, todas com mais de 16 anos, em 130 municípios do país, entre os dias 10 e 15 de julho de 2019. Para 86%, as escolas se tornam melhores com a educação inclusiva, e 76% acreditam que as crianças com deficiência aprendem mais estudando junto com crianças sem deficiência.
Desafios para uma educação inclusiva
A professora Giane conta que, embora haja um esforço por parte dos estudantes, ainda há bastante resistência dos funcionários a participarem do curso. No primeiro ano, apenas uma professora se inscreveu. Na edição de 2019, professores de outros municípios da região se interessaram pelo curso, que está ultrapassando as paredes do instituto. A equipe está se propondo a visitar outras escolas para conscientizar os alunos sobre a importância da acessibilidade para pessoas com deficiência visual.
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Victor, em específico, também se sente transformado por perceber o interesse da comunidade em aprender o braile (a última edição do curso teve até lista de espera!) e percebe mudanças na escola que, agora, está um pouco mais capacitada para lidar com as diferenças de seus alunos e alunas.
Este texto foi originalmente publicado em Criativos da Escola.