Professora do AEE desenvolve projeto para eliminar barreiras comunicacionais e estimular confiança e autoestima de estudantes
“Entre no mundo da imaginação”. É o que se lê em letras fixadas em cubos dispostos lado a lado acima de uma das estantes da sala de leitura da EMEF Ayres Martins Torres, localizada na zona leste de São Paulo (SP). Abaixo, um brasão colorido da escola, confeccionado à mão, se perde no meio da diversidade de livros depositados verticalmente em cada prateleira e situa os desavisados sobre o espaço que estão adentrando.
![Estante com livros em sala de leitura da EMEF Ayres Martins Torres. Acima da estante, a seguinte frase está escrita em três fileiras de cubos de papel: "entre no mundo da imaginação". Abaixo dos cubos e em viga de sustentação à direita, brasão da escola. Fim da descrição.](https://www.diversa.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Foto-16-10-2019-09-40-26-1024x768.jpg)
São três fileiras de cubos, uma letra para cada um. No espaço entre as palavras, as caixas são preenchidas por passarinhos de origami colocados delicadamente no lado frontal do cubo. A sala é retangular e conta com prateleiras em seus cantos, tendo a parte central composta por mesas circulares para que alunas e alunos possam apoiar os livros. Nas vigas que unem as estantes, fotos de estudantes e ex-estudantes que deixaram a sua história pela sala.
É nesse universo que Amanda de Souza Moura Silva, professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) há 4 anos, desenvolve o projeto de contação de histórias com estudantes do ensino fundamental. Ela identificou barreiras comunicacionais e interpessoais enfrentadas por alunas e alunos da escola e estruturou o projeto “Um pingo de história”.
Mundo de imaginação
Desde muito pequena, Amanda foi incentivada pelo pai a ingressar no mundo da leitura. Ele, vindo de área rural, estudou até o ensino fundamental, mas sempre teve gosto por um bom livro, “por vontade própria”. Começou a apresentar histórias em quadrinhos para Amanda, como as de Chico Bento. Ela, inspirada pelo pai, logo se encantou:
“Esse mundo da leitura me ensinou muita coisa, além do que a escola poderia me ensinar. Trouxe muito conhecimento e abriu minha mente. Tudo que eu estudo envolve os livros. Todos os meus projetos são em cima de livros e pesquisa”.
Leitura para estimular autonomia dos estudantes
“Um pingo de história” nasceu desse encanto. Na sala de leitura, os estudantes escolhem livros para ler e posteriormente apresentar para turmas do 1º e 4º ano da escola. Dessa forma, o projeto envolve os professores da sala comum, consegue ser colaborativo e transversalizar conteúdos.
![Amanda de pé em frente à estante de livros, Amanda auxilia alunos a selecionarem estudantes para a contação de histórias. Nathan está no centro sentado em cadeira e de frente para a estante. Jonathan está em pé à direita e folheia um livro. Fim da descrição.](https://www.diversa.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Foto-16-10-2019-09-40-46-1024x768.jpg)
Amanda iniciou o projeto no início de 2019 com o objetivo de fortalecer a autoestima e estimular a independência e autonomia dos estudantes, além de eliminar as barreiras de relacionamento apresentadas por eles.
+ Leitura e escrita na educação infantil com sentido e significado
De acordo com Amanda, os alunos desenvolvem a autonomia à medida que se tornam responsáveis pelo planejamento e execução das apresentações. Além disso, o projeto proporciona desenvolvimento em sala de aula, pois trabalha a interdisciplinariedade por meio das histórias.
“A leitura é transformadora”
Nathan e Jonathan são estudantes que participam do projeto, ambos estão no 9º ano do ensino fundamental. Nathan tem deficiência física e dificuldade para organizar seu pensamento. Já Jonathan apresenta falas descontextualizadas e muitas vezes utiliza palavras soltas para tentar se comunicar.
Eles não são alfabetizados e encontram dificuldade para criar vínculos na sala de aula. A partir do contato com os livros, no entanto, se tornaram mais confiantes e apresentaram desenvolvimento comunicacional e da autoestima.
+ Escrita e alfabetização de crianças com transtorno do espectro autista (TEA)
“Eu vejo o quanto a leitura é transformadora. A leitura é importante para o desenvolvimento dos estudantes e o fato de não saberem ler não é barreira para que possam vivenciar um livro”.
Para Nathan, o processo de contação das histórias na sala de leitura é muito motivador. Ele ressaltou o respeito dos demais estudantes: “a sala ficou quietinha prestando atenção”. Jonathan, por sua vez, destaca a importância do projeto para o seu desenvolvimento interpessoal: “ajudou bastante a me relacionar com os outros estudantes”.
-
Em sala de leitura, Nathan observa livros para a contação de histórias. -
Estudantes em sala de leitura fazem a seleção de livros para a contação de histórias. -
Jonathan folheia livro escolhido.
Direito à aprendizagem
Além do desenvolvimento comunicacional, a ideia é alinhar o projeto ao currículo dos estudantes, com o objetivo de garantir aprendizagem a todos. Para isso, Amanda pretende trabalhar de forma colaborativa e em parceria com os professores de sala, atrelando as leituras aos temas que são trabalhados em sala de aula.
+ Adequação curricular: construindo uma escola inclusiva
A escola está em construção de trabalho colaborativo. Amanda já iniciou planejamento de reuniões com professores e coordenadores para estruturar proposta de ações em parceira, visando garantir o acesso ao currículo para todos os estudantes.
“O trabalho colaborativo é importantíssimo para a escola se transformar. Quando trabalhamos no individual, a construção não tem consequência e fica vazia”.