Criado para apoiar crianças com autismo em atividades do dia a dia, ferramenta pode ser usada por todas as crianças da educação infantil
O homem deve se adaptar constantemente e a diversidade humana é uma das principais alavancas dessa transformação.
Essa é a missão da instituição francesa Signes de Sens, existente há vinte anos.
A organização atua na criação de ferramentas para eliminar barreiras à informação, comunicação e aprendizagem de pessoas com deficiência, garantindo seu acesso por meio de diferentes recursos de acessibilidade.
Nesse aspecto, em 2013 a Signes De Sens trabalhou em conjunto com o Centre Ressources Autismes Hauts-de-France (Centro de Recursos para Autismo Hauts-de-France, em português), para criar “Ben, o Coala”, um personagem de desenho animado desenvolvido inicialmente para ensinar tarefas cotidianas, como escovar os dentes e se vestir, a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Entretanto, ao se apropriar dos conceitos do Desenho Universal para Aprendizagem (DUA), o aplicativo, disponível gratuitamente para baixar, se torna acessível para todas e todos que tenham interesse em utilizá-lo para ensinar os mais novos, seja em sala de aula ou em casa, com apoio da família.
“Ben, o Coala” acompanha crianças a partir dos 3 anos de idade, com e sem deficiência, em práticas de higiene e motricidade para ajudá-las a terem mais autonomia. O aplicativo oferece diferentes formas de acesso à informação, mecanismos simples de aprendizagem e permite que o adulto ajuste a prática à criança.
Atualmente o aplicativo está disponível em francês e em inglês e já conta com mais de 27 mil usuários ativos.
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Construção colaborativa
Sandrine Pont, de relações internacionais, e Emeline Sorel, gerente de projetos da Signes de Sens, contam que o aplicativo se dá com uma lógica de continuidade educativa. Como resultado, as mães, pais e responsáveis podem continuar trabalhando as mesmas habilidades aplicadas na escola.
Inclusive, os recursos são criados com o auxílio de familiares durante oficinas participativas: “Esses workshops permitem que todos apresentem as suas necessidades e imaginem soluções que desenhamos posteriormente”, afirma Emeline.
Pensando no desenvolvimento e na inclusão de todas as crianças, a ferramenta também foi desenhada e é constantemente aprimorada com base no currículo escolar e com a colaboração de profissionais de ensino.
Retorno positivo
De acordo com Sandrine e Emeline, os comentários sobre o aplicativo e seus recursos educacionais têm sido muito positivos, tendo como destaque a facilidade de uso e a existência de habilidades disponíveis em várias áreas de aprendizagem.
Além disso, afirmam que a utilização de vídeos baseados no princípio da mímica permite que o aplicativo seja utilizado pelo maior número possível de crianças: “Esse pequeno companheiro é uma forma alternativa de engajar as crianças com a imitação. Foi o caso de uma mãe que usou o vídeo “faça uma salada de frutas” para ajudar seu filho a entrar na imitação e, assim, auxiliá-lo na diversificação alimentar”.
Outro ponto positivo é o método utilizado possibilitar a criação de vínculos entre profissionais: “Uma comunidade está sendo criada e uma verdadeira troca de experiências está acontecendo”.
Como aprendizado do desenvolvimento dessa iniciativa, que pode ser replicada em outras regiões do mundo para garantir a inclusão escolar, ambas citam o método de criação envolvendo a comunidade escolar, a utilização do DUA e a importância das parcerias.
Inclusão escolar na França
Embora a chamada Lei da Deficiência, de fevereiro de 2005, aborde a garantia do direito de matrícula de crianças com deficiência em escolas de sua região, Emeline Sorel aponta que a construção de escolas inclusivas ainda é uma prioridade para o avanço de uma verdadeira inclusão na França.
“Podemos dizer que mais crianças com deficiência estão indo para a escola, mas não temos certeza da qualidade dessa inclusão e se ela realmente permite que estudantes público-alvo da educação especial aprendam e tenham mais autoconfiança.”
O país ainda conta com um modelo baseado principalmente em instituições e classes especializadas, que não permitem aulas com diversidade, convivência e troca de saberes entre estudantes com diferentes especificidades.
Levando em consideração esse cenário, a Signes de Sens tem como principal desafio facilitar a inclusão e busca parcerias internacionais para levar “Ben, o Coala” para outras regiões. Há a necessidade de adequar o aplicativo para o idioma do país onde será aplicado e possibilitar sua distribuição gratuita, além de realizar testes de usabilidade com as crianças, responsáveis e educadores para atender às necessidades de cada realidade.
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