Na verdade, não são os estudantes que não aprendem. A escola é que, muitas vezes, não está habituada a lidar com a diferença e, assim, não oferece estratégias pedagógicas que favoreçam a criação de vínculos, as relações de troca e o acesso ao conhecimento. Um dos princípios da educação inclusiva é justamente esse: toda pessoa aprende, sejam quais forem suas particularidades intelectuais, sensoriais e físicas. O que remete a outro princípio: o processo de aprendizagem de cada pessoa é singular. Por isso, torna-se fundamental avaliar cada situação, a fim de encontrar meios de garantir a inclusão efetiva de qualquer estudante, independentemente do laudo que o acompanha.
E a colaboração do profissional do Atendimento Educacional Especializado (AEE) nesse processo pode ser determinante, considerando que, segundo a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, esse serviço tem a função de identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade para a eliminação de barreiras para a plena participação dos alunos, levando em conta suas necessidades específicas.
Confira algumas histórias de educadores que apostaram nessa colaboração para criar estratégias pedagógicas:
Educação física e AEE se unem para incluir aluno com autismo em circuito motor
Em Curitiba (PR), professoras ajudam garoto a vencer barreira do isolamento ao criar atividades motoras e corridas de revezamento para turma do 4º ano do ensino fundamental.
Portas abertas para a inclusão – Circuito motor e corrida
Com apoio do AEE, professoras flexibilizam atividades para estudante autista
Docentes da sala comum e da Sala de Recursos Multifuncionais se unem para desenvolver estratégias a partir de interesses de adolescente com autismo
VEJA OUTRAS PRÁTICAS DE TRABALHO COLABORATIVO ENTRE AEE E SALA REGULAR
A avaliação na perspectiva inclusiva é um processo contínuo e contextualizado, no qual a referência deve ser a trajetória individual do estudante, sem que haja classificações ou comparações. Isso porque a educação inclusiva parte do pressuposto de que cada pessoa tem um modo singular de acessar, produzir e expressar o conhecimento. Por essa razão, a avaliação demanda a adoção de estratégias e ferramentas diversificadas, considerando as especificidades de cada aluno.
O Plano Educacional Individualizado (PEI), instrumento cada vez mais utilizado no contexto do Atendimento Educacional Especializado (AEE), pode se tornar um importante recurso de avaliação para todos os estudantes, com e sem deficiência.
A avaliação tradicional tem como referência um padrão considerado “normal” ou estatisticamente mais frequente. É como se todos os estudantes devessem aprender da mesma forma, no mesmo ritmo e no mesmo espaço de tempo. Os métodos de medição de conhecimento são padronizados, justamente porque se espera o mesmo resultado de todos os alunos. Aqueles que não alcançam esse parâmetro são excluídos.
Na perspectiva inclusiva, a avaliação tem como referência o processo individual do estudante. Não há comparação com o outro. O parâmetro do aluno é ele mesmo. Por isso, o objetivo não é classificar nem selecionar.
Para desenvolver uma avaliação inclusiva, o ponto de partida deve ser o próprio estudante. Ou seja, é preciso, antes de qualquer coisa, “olhar” para ele – porém não pontualmente, nem fora de contexto. É preciso acompanhá-lo processualmente para conhecer sua trajetória individual e conhecê-lo profundamente para descobrir de que modo é capaz de expressar melhor o conhecimento.
Não há um padrão de avaliação para o grupo como um todo que é adaptado a alguns poucos “diferentes”. Partindo do pressuposto de que a diferença é uma característica humana, ou seja, de que todos são diferentes, é preciso pensar em estratégias de avaliação diversificadas para todos os alunos, não somente os com deficiência.
Os erros são bem-vindos, produções autorais são valorizadas e um mesmo problema suscita a oportunidade de explorar múltiplas respostas. Provas, testes ou outras estratégias pontuais de avaliação têm menor valor que os processos de aprendizagem, a partir dos quais é possível reconhecer a evolução em relação ao que o educando já sabia ou era capaz de fazer anteriormente.
A atribuição de nota emerge justamente dos fenômenos observados no cotidiano da aprendizagem, em contextos que tornam visíveis os novos conhecimentos e as novas execuções.
As estratégias de avaliação deveriam ser “adaptadas” a todos os alunos, e a cada um, no sentido de levar em conta suas especificidades – necessidades, interesses, estilo de aprendizagem, conhecimentos prévios etc. Ou seja, o objetivo central ao se “adaptar” uma avaliação ou qualquer outra estratégia pedagógica deve ser a equiparação de oportunidades. E para isso é fundamental avaliar cada situação especificamente.
QUANDO ADAPTAR UMA AVALIAÇÃO PARA UM ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA?
O professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) deve trabalhar como aliado dos professores das classes comuns e demais profissionais da escola para a elaboração e definição do processo de avaliação. Infelizmente, essa não é a realidade de muitas escolas. Alguns professores do ensino regular, por falta de conhecimento ou comodismo, depositam toda a responsabilidade nos serviços de apoio, como se esses fossem os únicos responsáveis pela aprendizagem e inclusão.