Não é incomum ouvir de mães e pais que a escola fecha a porta para o diálogo quando se trata de a família desejar participar ativamente da construção das ações pedagógicas junto a seus filhos com alguma deficiência. Os responsáveis reclamam – e com razão – que há unidades de ensino que respondem secamente que já há um projeto pedagógico em andamento e que o estudante precisa se adaptar a ele. Outras escutam os familiares com muita educação, mas na hora H, continuam sem investir em transformações profundas na ação docente e em prol da acessibilidade, em seu sentido pleno.
Mas o inverso também acontece. Escolas que cobram e desejam a participação mais ativa da família, mas encontram dificuldades em um mar de irresponsabilidades e na ausência de envolvimento de mães e pais na construção de estratégias pedagógicas que contribuam para o desenvolvimento da aprendizagem e da sociabilidade dos alunos. Famílias que não participam também são muito comuns.
O estudante, independentemente de suas singularidades, tem direito a uma educação inclusiva de qualidade, que contemple suas demandas. Essa inclusão é construída em rede na sociedade da qual fazemos parte. Por isso, família e escola devem ser as primeiras instituições a se mobilizarem juntas para tecer redes de inclusão para extrapolar a educação inclusiva no contexto escolar e acadêmico, ou seja, para tecer uma educação inclusiva para a sociedade em todos os seus contextos e territórios.
O Plano de desenvolvimento individual (PDI)
Para tanto, algumas ações são imprescindíveis de serem realizadas em conjunto, entre elas, o Plano de desenvolvimento individual (PDI). O PDI é um planejamento organizado pela comunidade de aprendizagem de modo a favorecer o desenvolvimento do estudante. Escola e família constituem uma comunidade de aprendizagem. Portanto, ambas devem se envolver plenamente na construção do PDI, contemplando as demandas das singularidades do aluno e percebendo que o diagnóstico médico não o define. É preciso encontrar na própria criança ou adolescente as respostas para a construção de ações estratégicas que garantam seu direito ao acesso e à permanência na instituição de ensino.
Há escolas que fazem o PDI em um único dia. Como? Certamente não dialogam com o estudante e sua família para, juntos, organizarem um planejamento tão importante e útil. Há outras que engavetam o documento, como se fosse mais um relatório cumprido por tabela. Mas, para que seja efetivo, é essencial revê-lo semestralmente, considerando o desenvolvimento das habilidades e conhecimentos do aluno.
Nesse trabalho colaborativo entre ambas instituições, a escola pode solicitar informações sobre o dia a dia do estudante e compartilhar orientações pedagógicas para que os familiares desenvolvam em casa. Do mesmo modo, é fundamental que pais e mães escutem essas sugestões sem menosprezar o conhecimento profissional daqueles que atuam como educadores. Assim, eles demonstram acreditar no potencial de aprendizagem dos próprios filhos.
Redes entre escola e família
Não basta apenas colocar o estudante com deficiência dentro da instituição de ensino. Não basta deixá-lo ali por anos. Isso não é inclusão.
A inclusão é complexa e singular para cada aluno. Família e escola devem se configurar como partes indissociáveis dessa rede. A diferença de cada um deve ser considerada como algo próprio da espécie humana, não como uma característica apenas de algumas pessoas que recebem um diagnóstico médico. Ninguém é igual. Ninguém aprende da mesma forma.
Tecer redes de inclusão, em toda sua complexidade, não é um favor da escola ou um voluntariado da família. É um direito do estudante e uma obrigação de toda a sociedade.
Sílvia Ester Orrú é coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Aprendizagem e Inclusão (LEPAI). É professora da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Alfenas (Unifal). É autora de livros, capítulos e artigos em periódicos nacionais e internacionais.
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29 Comentários
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Penso que trabalhar inclusão hoje é um grande desafio, pois podemos até ter um PDI bem organizado, mas o que realmente importa é que ele seja aplicado de forma correta e assim se tornando algo efetivo, não apenas mais uma obrigação burocrática da escola.
A inclusão é um grande desafio na educação
A inclusão educação inclusiva deve ser acolhida não só pelas escolas mas principalmente pelos gestores políticos , que cada vez mais possam elaborar politicas públicas que qualifiquem e contemplem esses direitos na prática de qualidade.
Concordo com a reflexão de que inclusão não é depositar crianças no mesmo espaço sem criar ações estratégicas para a inclusão acontecer de fato.
A inclusão é um processo individual, o aluno sempre é a prioridade e a união entre família e escola torna esse processo verdadeiro e eficaz.
Concordo plenamente.
A FAMILIA É O ELO FUNDAMENTAL PARA O SUCESSO DO EDUCANDO. ALGUMAS COM DIFICULDADES DE RELACIONAMENTO OU PRATICAS INACEITÁVEIS PARA SOCIEDADE JUSTA CABE ESCOLA ORIENTAR E AJUDA-LOS.
Textos esclarecedores a respeito da Inclusão. Sabemos que não basta colocar alunos com necessidades dentro da escola, é necessário muito estudo, dedicação e amor para trabalhar e atingir objetivos com esses alunos. Mostrar que eles são capazes de avançar em conhecimentos e adentrar-se no mundo do trabalho.
E é claro,além de qualificar melhor os profissionais,estes também precisam ser melhor remunerados.
A inclusão deve ser uma ação em conjunto entre a escola e a família.
Com certeza! Família e escola devem formar parceria
A educação inclusiva é, sem dúvida, de grande importância no que diz respeito a uma educação de qualidade e de valorização do ser humano, na sua essência. No entanto, ainda precisamos avançar bastante nesse quesito de educação/escola inclusiva. É preciso que continuemos na busca e na luta por maior equidade no nosso sistema de ensino.
A inclusão é feita através de um atendimento que envolve conhecimento, amor e empatia por parte de todos os envolvidos (escola x família).
A escola precisa proporcionar esse convívio que é tão necessário à transformação de nossa sociedade em um lugar melhor para todas as pessoas viverem.
Incluir não é apenas inserir em sala de aula, é fazer o acolhimento,propor possibilidades de aprendizagem, oferecer medologias compativeis e manter o olhar sobre as dificuldades e potencialidades.
A inclusão vai muito além da permanência do aluno na escola, deve assegurar um ambiente de respeito, de socialização e aprendizado.
Para que haja a verdadeira inclusão toda a equipe da escola precisa estar engajada e buscar conhecimento e condições adequadas para atender as necessidades de cada estudante. Assim como ter a parceria das famílias dos mesmos.
A parceria escola/família é fundamental no processo de ensino aprendizagem uma vez que as duas são extremamentes importantes na formação e evolução do ser humano em todos os aspectos.
É fundamental que a escola oportunize a colaboração da família com a educação inclusiva. Isto deve ser um dos objetivos principais de todos os programas educacionais.
A escola deve considerar a família como parceira de todo este processo, tornando o sucesso cada vez mais próximo.
É preciso o envolvimento das famílias com empatia, de forma inclusiva e democrática.
É um pensar em conjunto ,de forma colaborativa e participativa.
A inclusão vai muito além da permanência do aluno na escola.
É de grande importancia a parceria entre escola e família,principalmente quando se trata da inclusão social;pois em conjunto o resultado do processo pedagógico tornar-se-á mais significativo para o educando e contribuirá para o desenvolvimento humano. Pais e escola precisam estar comprometidos e juntos construindo um melhor resultado para o PDI.
A inclusão não é só nos bancos escolares, vai muito além.
Familia e escola são muito importantes.
Incluir alunos na sala de aula requer um olhar muito atento, de responsabilidade, buscas, desafios. O educador precisa se qualificar para atender este aluno dentro das suas peculiaridades. Caso contrário, estaria havendo a exclusão, tornando o processo ainda mais árduo.
Muito importante essa abordagem!
A parceria entre escola e família é de suma importância para o desenvonvimento da aprendizagem. A educação inclusiva dos alunos precisam de uma extrutura que garante seu crescimento tanto cognitivo como emocional.
A inclusão deve ser feita por todos para obter um bom resultado
Acredito que para a educação funcionar de um forma digna aos estudantes, devemos primeiramente conhecer nossos alunos, da onde eles vem; conhecer a família dos mesmos. Para que possamos de uma melhor forma avaliar o mesmo no seu processo de ensino aprendizagem;
Sendo essas avaliações de forma qualitativa e não quantitativa; Podemos realizar avaliações de outras maneiras com nossos discentes, ter um olhar diferenciado aquele estudante que vem de longe, muitas vezes enfrentam duas ou mais horas de viagens para estar no âmbito escolar;instigar se esse estudante está com fome, sono. Tudo isso influência em seu processo de aprendizagem. Olhar humanizado
A família é o principal suporte para o nosso educando, Deve haver sempre uma sintonia entre a escola e a família, onde cada um faz a sua parte.
A base dos nossos alunos é a família e ela deve estar presente na escola e juntos construir uma parceria em benefício do aluno.