Um outro caso era uma aluna que tinha paralisia cerebral parcial. Esse caso, o desafio que eu encontrei foi conseguir dar autonomia para a aluna, que ela havia desenvolvido uma dependência muito grande no ano anterior, porque ela estava numa sala de aula com outro aluno (que hoje não está mais na escola) que também tinha uma deficiência física. E eles tinham um monitor em sala de aula para eles. Só que o monitor cuidou deles o ano todo, na certeza de que estava fazendo o melhor. Mas com aquela prática desenvolveu uma dependência nos alunos. Então o que acontecia: eles não participavam da fila com os outros alunos, não participavam do recreio, tinham horário específico para fazer o lanche, para ir ao banheiro. E isso desenvolveu a idéia na aluna de que ela tinha privilégios na turma, o que não era adequado, porque se ela está incluída ela tem que saber que ela tem à disposição dela tudo aquilo que os outros tem: nem aquém nem além. Atendida nas suas necessidades por meio de recursos e da atenção do professor, mas nada de privilégios. Essa não é a idéia da escola inclusiva. E o desafio foi tirar o monitor. E a gente teve que fazer algumas reestruturações no nível da escola também, para que eles pudessem participar do recreio. O recreio, antes, era com todas as turmas juntas: correria, aluno maior com aluno menor e para eles que tinham deficiência isso era um empecilho: ela poderia cair – tinha essa preocupação da família e a advertência da família: “ela não pode cair!” Então a escola se reestruturou, passou a fazer recreios dirigidos com menos turmas para que eles pudessem acessar e ter o tempo que era necessário para eles. Antes, eles chegavam no recreio mas ficavam de lado, olhando os outros se divertir. Mas essa não é a idéia. A escola fez essa reestrutura na parte do recreio para que eles pudessem participar em tempo integral na escola.
ADRIANGELA BONETTI, EX-PROFESSORA DAS SÉRIES INICIAIS / COORDENADORA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA