J. mora com os pais e as irmãs; é meiga, amorosa, sensível e muito esforçada. Os pais trabalham e J. fica o maior tempo com suas irmãs mais velhas, V. de 12 anos e L. de 16 anos, que também ajudam nos cuidados. A família costuma comparecer quando solicitada e participam da vida escolar da criança.
No período que não está na escola fica em casa, o maior tempo assistindo televisão com as irmãs.
Segundo informações da mãe, o comprometimento maior é nas pernas, pois os “tendões” não acompanharam o desenvolvimento do corpo e isso aconteceu na gestação; quando a criança completou um ano, a mãe percebeu que as pernas não haviam desenvolvido do joelho pra baixo. A aluna também tem o lado esquerdo do corpo levemente comprometido em relação à coordenação motora. Usa cadeira de rodas, em casa tem um aparelho para tentar andar, mas tem um pouco de medo. Frequenta a Associação de Assistência à Criança Deficiente – AACD, onde faz hidroterapia e fisioterapia, todas as segundas-feiras.
Tem bom relacionamento com os colegas, que adoram ajudá-la com a cadeira de rodas, mesmo a escola tendo uma estagiária de apoio à inclusão que auxilia na locomoção da aluna. Estuda em uma classe com 27 alunos, tem vários amigos; apresenta dificuldade de aprendizagem, mas realiza as atividades propostas de acordo com o que sabe. A aluna gosta muito de colorir a folha toda, preenchendo cada espaço em branco; demora muito para realizar as atividades, pois conversa muito; relatou que gosta de escrever, mas Matemática não, porque é difícil; tem dificuldades na coordenação motora fina e no manuseio da tesoura.
Busquei clarificar o caso e identificar barreiras que poderiam limitar e/ou impedir a participação da aluna J.e nas atividades pedagógicas desenvolvidas no ambiente escolar e também auxiliar na busca de maior autonomia.
Em relação ao comprometimento motor e dificuldade no manuseio da tesoura, busquei, dentro do atendimento oferecido na Sala de Recursos Multifuncionais, fazer uso dos recursos e serviços na Tecnologia Assistiva – T.A (tesoura adaptada).
Dessa forma houve necessidade de adaptar a tesoura com o objetivo de proporcionar facilidade no movimento de abrir da tesoura, assim a aluna necessita realizar apenas uma pressão para fechar a tesoura, que retorna automaticamente para a posição aberta.
A deficiência intelectual também impõe limitações e requer conhecimento dos envolvidos no dever de proporcionar condições para o sucesso da inclusão escolar da aluna. Principalmente pelo fato de as barreiras impostas pela deficiência intelectual serem muito diferentes das barreiras encontradas nas outras deficiências.
Como proposta, verifica-se a necessidade de auxiliar o professor da sala comum, por meio da proposta de leituras que esclareçam e norteiem sua didática. Buscamos tomar ciência da maneira própria que a aluna com deficiência intelectual tem de lidar com o saber e que essa maneira, muita vezes, não corresponde ao que a escola espera.
No Atendimento Educacional Especializado, direcionado para a deficiência intelectual da aluna, a proposta foi privilegiar o desenvolvimento e a superação de seus limites intelectuais na dimensão subjetiva do processo de conhecimento. Além de oportunizar e incentivar a aluna a se expressar, pesquisar, inventar hipóteses e reinventar o conhecimento livremente. Dessa forma, ela pode “trazer para os atendimentos os conteúdos advindos da sua própria experiência, segundo seus desejos, necessidades e capacidades.” (MANTOAN, 2006)
Busquei no atendimento educacional especializado a proposta de atividades que contribuíssem para a aprendizagem de conceitos, além de propor situações vivenciais que possibilitassem à aluna organizar o seu pensamento. O atendimento se fundamentou em atividades que exijam da aluna a utilização do raciocínio para a resolução de determinadas situações-problema, considerando suas especificidades cognitivas.