Grupo de dança une pessoas com e sem deficiência e valoriza diferenças

Solidariedança valoriza a diversidade e cria estratégias inclusivas para proporcionar a participação de todas e todos

Cintia Lima não imaginava que o seu projeto universitário em 2002 se tornaria um importante grupo de dança artística em cadeira de rodas do país. A princípio, ela tinha a ideia de aliviar o cotidiano de uma clínica de reabilitação do município de São Caetano do Sul utilizando música e dança no tratamento de pacientes.

Após sair da universidade de fisioterapia, em 2003, levou o projeto para frente e abriu um grupo de dança com seis cadeirantes. Em 2007, o grupo apresentou o seu primeiro espetáculo e um ano depois a bailarina e fisioterapeuta de formação fundou a Associação de Arte e Cultura Solidariedança.  

 

Grupo de dançarinos realiza apresentação artística em palco levantando as mãos. No grupo, há cadeirantes e pessoas sem deficiência. Fim da descrição.
Solidariedança se apresenta em espetáculo de música. Foto: Arquivo pessoal.

 

A associação cresceu e hoje apresenta diversos espetáculos de dança inclusivos. O grupo conta com cerca de 400 associados, entre pessoas com e sem deficiência, crianças, jovens, adultos e idosos. Para Cintia, a música contribui para a valorização das potencialidades e criatividade de todos, além de desenvolver autonomia e protagonismo.

 “Não há espaço mais democrático de manifestação do que a música e a dança. Elas são inerentes ao ser humano”.

As expressões artísticas são poderosas ferramentas inclusivas, acredita Cintia. Enquanto a música toca, todos os atores estão envolvidos no mesmo ritmo e na mesma “comunhão”. Ninguém fica de fora.

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“A mistura é algo que tem feito a diferença aqui na Solidariedança”

Fernando Passos, 53 anos, é formado em sistemas da informação e faz parte da Solidariedança há 8 anos. Ele usa cadeira de rodas e estudou toda a sua vida acadêmica em escolas comuns. Atualmente ele é graduando em licenciatura em História e pretende lecionar para o ensino médio e fundamental. Para ele, o contato com a diversidade é essencial para a construção de uma sociedade inclusiva. “O papel da Solidariedança é permitir o convívio entre as diferenças”.

A mesma visão é compartilhada pelo presidente da associação, Fernando Coelho. Professor de educação física, ele entende que a “mistura” de diferenças faz bem para todos.

“O resultado é muito bom: faz as crianças terem uma sensibilidade e valorizar uma cultura inclusiva”.

Em suas aulas de educação física, Fernando Coelho procura trabalhar esportes adaptados e criar atividades para que todos possam aprender e participar. Para ele, existem inúmeras formas de desenvolver estratégias pedagógicas que possibilitem o acesso e a participação de todos.

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“Ter sempre o olhar para mudar estratégias”

Além do convívio com a diversidade, a flexibilização de regras também é bem comum na Solidariedança. Rose Rodrigues, musicoterapeuta da associação, explica que é preciso sempre “ter o olhar para mudar estratégias”.

“A gente olha o outro e se alguém tem alguma dificuldade, mudamos a estratégia para que todos possam participar”.

“Educação inclusiva como grande conquista”

Victor Fernandes Stein, 15 anos, é um dos associados da Solidariedança. Ele encara positivamente o desenvolvimento de estratégias e atividades que visem a participação de todos. Usuário de cadeira de rodas, Victor está no 9º do ensino fundamental. Para ele, as escolas devem propor novas atividades nas aulas de educação física, como esportes adaptados.

“Todos os alunos poderiam participar e o melhor seria que os alunos sem deficiência teriam a experiência de praticar um esporte com um novo olhar”.

Victor participou de um grupo de basquete para cadeirantes por 7 anos e no início do ano começou a fazer parte da Solidariedança. Ele estudou toda a vida escolar em escolas comuns e considera a educação inclusiva essencial para efetivar o direito de todos à educação.

“Vejo a educação inclusiva como uma grande conquista para nós pois possibilita que tenhamos direito à uma educação como qualquer pessoa”.

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