Entre os dez vencedores, há experiências de descolonização do currículo, de valorização da comunidade e de trabalho colaborativo
O Prêmio Educador Nota 10 já tem os vencedores da edição de 2020. Nesta edição, foram valorizados projetos que desenvolveram equidade e inclusão no ambiente escolar, com ações que possibilitam o desenvolvimento e garantem o acesso a aprendizagem a todas e todos os envolvidos.
Dos dez vencedores, três trabalhos explicitaram que havia estudantes com deficiência nas turmas, um sendo realizado por diretora e os demais por professores da sala comum. Todos dão ênfase ao diálogo e ao trabalho colaborativo, garantindo que ninguém fique para trás. Conheça os projetos:
Gestão democrática
A primeira prática que merece destaque é a gestão da diretora Lúcia Cristina Cortez de Barros Santos em escola municipal de Manaus (AM), que garantiu uma educação de qualidade a todos os estudantes da escola: crianças estrangeiras, com distorção em idade/série, com deficiência e em situação de vulnerabilidade.
No projeto Acolher para todos envolver e aprender, as tomadas de decisão resultaram de estudos regulares com toda a comunidade. De acordo com Lúcia, o projeto surgiu da necessidade de repensar a prática pedagógica tradicional, que acentua as desigualdades. A diretora explica como realizar esta mudança na escola:
Colocando o aluno como centro da escola, respeitando o seu desenvolvimento em todas as suas dimensões, intelectual, física, emocional, social e cultural. Desburocratizando as relações, estabelecendo vínculos afetivos, engajando, dialogando, tendo mudanças atitudinais e quebrando paradigmas.
Estratégias pedagógicas inclusivas
Por sua vez, o projeto Corpo performático: imagens e palavras, da professora de arte Camila Josefa Nunes Rossato, ganhou relevância em sala de aula. Os estudantes desenvolveram produções artísticas envolvendo o corpo, a expressão e as questões da vida, tratando de assuntos como depressão na adolescência, apropriação cultural e racismo estrutural. A educadora explica a participação dos estudantes no trabalho, que foi realizado na cidade de São Paulo:
Os estudantes puderam expressar suas impressões por meio de registros em vídeo, gráfico e oralizando seus saberes. Também foram propostas atividades coletivas, envolvendo a expressão do corpo, oportunizando que todos pudessem contribuir à sua maneira.
Como exemplo de trabalho colaborativo, a educadora Rita Mozetti Silva, com um trabalho de leitura literária e produção de textos, envolveu os estudantes de sua turma, colegas de outras classes e até mesmo de outras escolas da região de Franca (SP). Entre outras atividades, o projeto Pé de Livros entre amigos, promoveu encontros e, para que todas e todos fossem contemplados no momento literário, foram elaboradas estratégias inclusivas por meio do trabalho colaborativo com as crianças.
Valorização da identidade
Além das práticas desenvolvidas com estudantes que são público-alvo da educação especial na sala comum, outros educadores elaboraram projetos que discutem temas inclusivos, para trabalhar conscientização e valorização de identidade em aula. Confira:
Realizado em escola municipal de São Paulo (SP), pela professora Lidiane Lima, o projeto de língua portuguesa “Eu posso ser poeta!” Sarau Heranças Afro teve início após a professora perceber que seus estudantes tinham baixa autoestima e relutavam em assumir sua cor de pele e identidade.
Trabalhando de acordo com a realidade dos estudantes, Lidiane desenvolveu estudos por meio da poesia, buscando mesclar poetas canônicos a periféricos, para reflexão e valorização da história e da cultura negra e da região onde moram. Com o incentivo para que os estudantes expressassem as leituras de maneiras variadas, com declamações, danças, reflexões, entre outros, todos juntos desenvolveram o Sarau Heranças Afro, apresentado em diversas escolas de bairros próximos.
Descolonização do currículo
Já em escola municipal de Bauru (SP), a educadora Suzi Dornelas e Silva Rocha desenvolveu o projeto Viajando pela cultura africana, de descolonização do currículo, para ampliar o repertório cultural e geográfico acerca dos países africanos e abordar o racismo estrutural. O trabalho contribuiu com o sentimento de pertencimento étnico-racial dos estudantes a partir de brincadeiras e jogos e permitiu um diálogo geracional entre as famílias.
Para finalizar, o projeto As filosofias de minha avó: poetizando memórias, que também contou com a contribuição da filosofia africana, da educadora Maria Isabel Dos Santos Gonçalves, permitiu aos estudantes conhecer filósofos e desenvolver o pensamento crítico. Eles elaboraram relatos de memória, escritos e em vídeo, que valorizaram a cultura dos povoados da cidade, seus conhecimentos, suas culturas e suas reflexões.
O trabalho foi realizado em Chapada Diamantina (BA), município da zona rural com pouco mais de 13 mil habitantes. Na região, a maioria dos habitantes são quilombolas e há elevado índice de analfabetismo e este é o primeiro relato de memória registrado na comunidade.
Leia relatos de experiência de educadores da edição 2019 do Prêmio:
+ Como trabalhei preconceitos para empoderar turma da EJA
+ Projeto de inglês utiliza Beatles para discutir igualdade racial
+ Projeto usa capoeira para valorizar a identidade brasileira
Reconhecimento de educadores e gestores
Em 2020, mais de 3.700 projetos de todo o país concorreram ao Prêmio Educador Nota 10, que foi criado há mais de 20 anos e é o maior e mais importante premiação da Educação Básica brasileira. O Prêmio tem por objetivo reconhecer o trabalho e valorizar educadores da educação infantil ao ensino médio e também coordenadores pedagógicos e gestores escolares de escolas públicas e privadas.
Para conhecer todos os projetos finalistas e os 10 vencedores, acesse: https://premioeducadornota10.org/