Como enfrentar as barreiras na alfabetização

Professores têm o desafio de olhar para as potencialidades e dificuldades de cada estudante, entender qual o contexto em que ele está inserido e diversificar estratégias para atender a todos

Estudantes entre 5 e 6 anos estão sentados na grama em área externa de escola. Eles estão divididos em grupos enquanto cada um realiza leitura de livro. No espaço há duas árvores e o dia está ensolarado. Fim da descrição.
Legenda: Momento de leitura da turma da professora Vanessa Martins, da Ueb Hortência Pinho, em São Luiz (MA). Crédito: Acervo pessoal/Vanessa Martins

Na escola, os professores se deparam diariamente com diversos desafios para garantir o avanço dos estudantes no processo de alfabetização. E, na maioria das vezes, a barreira enfrentada por um aluno é diferente daquela que se apresenta a outro, colocando o docente em uma posição que precisa ser, acima de tudo, flexível. “Em uma classe com 30 alunos, com certeza você terá crianças com necessidades variadas”, comenta Sônia Madi, especialista em alfabetização, leitura e escrita. 

Para ser flexível, o professor precisa ter um repertório de estratégias às quais recorrer. Mesmo indicando que o 1º e o 2º ano do ensino fundamental devem ter como foco a alfabetização, a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta a necessidade de que as propostas curriculares desenvolvidas pelas redes e instituições de ensino devem, entre outros aspectos, “selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização etc.”  

Essa compreensão de que as turmas são essencialmente formadas por grupos heterogêneos corrobora a premissa de que cada sujeito tem um processo singular de aprendizagem.  

A diversidade de estudantes nas turmas foi ampliada nas últimas décadas, entre outros fatores, pelo avanço de políticas públicas que garantiram direitos às pessoas que historicamente foram excluídas do sistema educacional, dentre elas a população com deficiência. De acordo com o Painel de Indicadores da Educação Especial, iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes (IRM) em parceria com o Instituto Unibanco e com apoio do Centro Lemann, que reúne dados do Censo Escolar, 74,4% das escolas brasileiras têm matrículas da educação especial. Em cinco anos, o aumento foi de 41,6%, saltando de 1,25 milhão em 2019 para 1,77 milhão em 2023.   

“O conceito atual de pessoa com deficiência, segundo a perspectiva do modelo social, diz respeito ao sujeito com seus impedimentos de ordem física, sensorial ou cognitiva que, na interação com o meio, tem sua participação prejudicada”, afirma Deigles Amaro, formadora e especialista em gestão educacional do IRM. Por isso, argumenta ela, é necessário identificar quais são esses impedimentos, entender a relação deles com o contexto no qual o estudante está inserido e pensar em como ampliar os recursos oferecidos a eles. 

Sônia afirma que, no dia a dia, isso significa sempre mudar as estratégias para encontrar maneiras diferentes de atender às necessidades de todos os estudantes. “Se, para determinado aluno, escrever no teclado é mais fácil, vamos escrever no teclado. Se há crianças com dificuldades perceptivas de audição, temos de pensar em novas estratégias para trabalhar a consciência fonológica [identificar sons individuais e semelhanças sonoras entre palavras e separar palavras em sílabas, entre outros processos] e mudar um pouco o caminho. Se um estudante não consegue manter o foco, temos de planejar considerando quanto tempo ele dá conta de prestar atenção”, exemplifica a especialista. 

O que é alfabetização? 

A concepção a respeito do que é estar alfabetizado foi se alterando ao longo do tempo. No Brasil, uma grande mudança aconteceu por volta da década de 1980, quando a obra da psicolinguista argentina Emilia Ferreiro (1937-2023), que estudava o processo de aprendizagem das crianças, passou a influenciar fortemente a educação. Uma de suas principais contribuições foi mostrar como as crianças são ativas durante a construção de conhecimento. Em seu livro “Reflexões sobre alfabetização” (Editora Cortez, 1986), a pesquisadora defende que o processo de alfabetização não é mecânico: “Essa criança se coloca problemas, constrói sistemas interpretativos, pensa, raciocina, inventa, buscando compreender esse objeto social particularmente complexo que é a escrita, tal qual ela existe na sociedade”.   

Durante muito tempo, acreditou-se que uma pessoa estava alfabetizada quando “dava conta de ler com certa fluência e entender o que estava lendo”, explica Sônia. Depois, porém, passou a ser discutida a diferenciação entre os conceitos de alfabetização (relacionado à competência de ler e escrever) e de letramento (relacionado à função social da leitura e da escrita). Para Magda Soares, pesquisadora brasileira que também é referência, as duas coisas precisam ocorrer simultaneamente. 

Na prática, essas mudanças conceituais influenciaram também a maneira como os professores ensinam em sala de aula. Se antes as aulas de alfabetização eram marcadas por ensinamentos de letra por letra do alfabeto e suas respectivas sílabas, hoje elas são marcadas pelo contato com livros mesmo quando as crianças ainda não dominam as palavras  e por hipóteses geradas pelos próprios estudantes, que são convidados a escrever palavras que ainda não conhecem, por exemplo. 

“O processo de alfabetização de uma criança precisa ser compreendido como algo que vai muito além de uma ferramenta que a instrumentaliza no aprendizado da leitura e da escrita”, afirma Marise Bastos, doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano, professora da Universidade Ibirapuera e pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância (Lepsi). “A aquisição da escrita opera no processo de subjetivação da criança, pois possibilita que ela amplie suas formas de dizer de si para o outro, bem como torna possível que ela saiba mais sobre o outro e sobre o mundo, construindo e ampliando seus laços sociais e, portanto, indo além do que está ao seu redor”, completa.  

Tudo isso influencia na identificação de barreiras que podem impedir ou dificultar a alfabetização. Por exemplo: hoje, as crianças não terem contato com livros desde pequenas é considerado uma barreira social, uma vez que já se sabe o quanto esse mergulho no universo literário facilita a alfabetização. Há também questões de ordem emocional que fazem com que os estudantes tenham medo de errar, o que representa outra barreira, em um contexto no qual a tentativa e o erro passaram a ser compreendidos como parte importante do processo de aprendizagem. 

O que pode dificultar a alfabetização? 

Mas, afinal, quais são as principais barreiras que permeiam o processo de alfabetização? Antes de mais nada, é preciso retomar o que foi dito no início deste texto: é necessário compreender que existem diversos desafios no processo de alfabetizar crianças, uma vez que cada estudante é único e pode enfrentar barreiras diferentes.  

Isso significa que, em uma sala de aula com 20 ou 30 alunos, o professor vai encontrar crianças com dificuldades e potencialidades diferentes, e é preciso conseguir enxergar isso individualmente para pensar em estratégias gerais que permitam que todos avancem. 

Barreira emocional 

Uma das barreiras enfrentadas pela professora Vanessa Martins, que leciona no 1º ano na Unidade de Ensino Básico (Ueb) Hortência Pinho, em São Luís (MA), é a emocional, sobretudo após o período de isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19. 

A professora conta perceber que os estudantes estão, no geral, mais imediatistas, tendo pouca paciência para aprender em um processo que leva tempo, como é o caso da alfabetização. Isso fez com que as atividades realizadas para estimular o desenvolvimento de habilidades socioemocionais fossem mais recorrentes no planejamento de Vanessa. “Além de trabalhar leitura e escrita, eu tenho de tratar da questão do desenvolvimento emocional das crianças, para que elas possam compreender que cada um tem seu tempo para cada aprendizado”, comenta a professora. 

Podemos também pensar em outras situações nas quais há barreiras emocionais: pessoas mais tímidas e que têm vergonha de desenvolver a oralidade; outras que têm muito medo de errar e arriscar a escrita, seja por pressão da escola ou da família; e até, por exemplo, aquelas com quadros de ansiedade e depressão, circunstâncias que podem influenciar diretamente o aprendizado. 

Barreira social 

A professora Juliana Ávila, que atua na Escola Municipal (EM) Alberto Santos Dumont, em Lagoa Santa (MG), comenta que um dos principais desafios enfrentados por ela na alfabetização é conseguir apoio das famílias. A docente costuma propor projetos de leitura, enviando textos para os estudantes lerem em casa junto das famílias, mas, em muitos casos, os responsáveis não desenvolvem as atividades. Isso pode ocorrer por vários motivos, alguns dos quais refletem as desigualdades socioeconômicas do país, como a falta de formação educacional de pais e responsáveis ou mesmo o cansaço por conta de uma rotina intensa de trabalho.  

Cabe, então, lembrar que, se em casa os estudantes não têm um ambiente alfabetizador, a escola deve cumprir esse papel, inclusive revendo as indicações de lição de casa, propondo atividades que considerem a autonomia da turma para desenvolvê-las. 

Por outro lado, é também comum que responsáveis pressionem as crianças no processo de aprendizagem, criando ou ampliando barreiras emocionais. Vanessa relata, por exemplo, o comportamento de pais que acham que os filhos não avançam na alfabetização porque são preguiçosos, quando na verdade aquela criança só está seguindo seu tempo de aprendizagem. Para enfrentar o que pode se tornar uma barreira atitudinal, é importante que professores e gestores estabeleçam uma relação de parceria com as famílias, criando momentos de troca para explicar o processo de cada estudante, ressaltando os avanços, informando o que a escola irá fazer em relação às dificuldades e orientando como pais e responsáveis podem apoiar.  

Barreiras cognitivas 

Outros tipos de questão a serem trabalhados durante a alfabetização estão relacionados à maneira como cada criança aprende. Em alguns casos, por exemplo, um estudante pode ter ótimo letramento, mas ainda assim ter dificuldade com a consciência fonológica. Ou então ele realiza com facilidade a parte de decifrar as palavras e praticar a leitura, mas apresenta dificuldade em manter a atenção durante tempo suficiente para dar sentido ao que de fato está lendo. Nesses casos, caminhos possíveis certamente passarão pela diversidade de estratégias.  

Barreiras motoras 

Sobretudo no caso de crianças com deficiência, as condições motoras dos estudantes podem gerar a necessidade de ações e recursos para enfrentar possíveis barreiras. É o que acontece com uma das alunas de Juliana, Laís, de sete anos, que tem microcefalia.  

Laís não fala, tem dificuldade de enxergar com um dos olhos e não tem firmeza nas mãos para pegar o lápis para escrever. Além de propor atividades diretamente relacionadas à alfabetização, Juliana procura trabalhar, em conjunto com a professora do atendimento educacional especializado (AEE), o desenvolvimento da coordenação motora fina da estudante. A professora também incentiva que Laís se expresse com a ajuda de outros materiais, como o giz, riscando no chão. 

“Tudo o que ela vai absorvendo e desenvolvendo é um ganho. Nas mínimas coisas, cada avanço é uma vitória imensa para nós”, comenta a professora, que atua com Laís há cerca de um ano e meio. 

Barreiras sensoriais 

A maneira como as crianças acessam as informações, quando diferente do considerado padrão, pode ser uma barreira, se esse fato for ignorado pelo professor.  

“Quando pensamos em estudantes que não enxergam, por exemplo, se durante o processo de ensino e aprendizagem tivermos apenas estímulos visuais, isso pode se constituir uma barreira. Assim como no caso de uma pessoa que não escuta. Se tivermos informações que cheguem só por meios orais e auditivos, isso é uma barreira”, exemplifica Deigles. 

Barreiras atitudinais

No contexto da alfabetização, é possível pensar na responsabilidade dos professores de oferecer meios de enfrentar as barreiras, e não as aumentar. Por exemplo, se um docente não tem paciência para entender o tempo de aprendizagem de cada criança, ele pode amplificar uma barreira emocional. Ou se não oferecer formas diferentes de os estudantes terem acesso à informação e se expressarem, pode acrescentar tijolos a uma barreira sensorial. 

Além de apoiar os estudantes em suas individualidades, é papel dos professores estudar e entender os avanços mapeados por profissionais da área para compreender e lidar com o processo de alfabetização. Um docente preso a métodos antigos também se torna uma barreira para o aprendizado, reforçam as especialistas ouvidas pela reportagem. 

“Hoje, a alfabetização não é só uma decodificação de códigos; tem a ver com leitura e interpretação do mundo por meio do sistema escrito. Então, quando a gente restringe esse processo só à decodificação de sílabas e fonemas, por exemplo, para alguns estudantes isso pode também ser uma barreira, uma vez que eles não encontram sentido naquelas letras organizadas de determinada maneira”, pontua Deigles. 

Como eliminar as barreiras da alfabetização? 

Para Deigles, a resposta está em um modelo de educação inclusiva, que utilize, entre outras, estratégias do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Especial Aplicada (Cast, na sigla em inglês). 

O DUA parte da premissa de que, para ampliar as oportunidades de desenvolvimento de cada estudante, diversificar é essencial. São três princípios primordiais: 

  • A apresentação do conteúdo precisa ter diversos formatos como áudio, vídeo e imagens — para contemplar diferentes públicos; 
  • Os estudantes devem ser capazes de se expressar de maneiras diferentes, o que inclui estratégias diversas de contato com o conteúdo, como pesquisas ativas e trabalhos em grupo, e variedade de formatos de avaliação; 
  • Para garantir o engajamento, os professores devem pensar em como relacionar os conteúdos com o contexto dos estudantes e com a vida real. 

Segundo Deigles, esse modelo garante não apenas a inclusão de estudantes com deficiência. Por exemplo, qualquer aluno que aprenda com mais facilidade por meio de estímulos visuais também se beneficia de uma informação apresentada por imagens, e não somente aquele que é surdo.  

“Oferecer múltiplas formas de engajamento, de chegada de informação e de expressão é uma estratégia para todos os estudantes, não só para os que têm algum tipo de deficiência. Pode ser que, simplesmente ofertando essa diversidade de meios, você já melhore e amplie a participação, a compreensão e a expressão com qualidade para esse aluno com deficiência e para os demais”, comenta Deigles. 

Na hora de se expressar, os professores também devem proporcionar diversas possibilidades. É o caso de Laís, que demonstra seus avanços no aprendizado riscando com o giz o chão ou apontando para peças de um quebra-cabeça, e não respondendo formalmente a atividades propostas em uma folha impressa. 

“É necessário permitir aos estudantes que se expressem de jeitos diferentes, de forma oral, escrita, gestual ou pela comunicação assistiva. A gente sabe que há estudantes que podem não registrar por escrito ou não dizer o que querem com as palavras, mas eles conseguem apontar, por exemplo”, afirma a especialista do IRM. 

Ambiente alfabetizador e intervenções diversas 

O DUA, que deve ser usado em qualquer etapa do ensino, é, portanto, uma maneira de garantir a todos os estudantes o acesso à mesma aula, mesmo que estejam em níveis de aprendizado diferentes ou que tenham dificuldades diversas relacionadas à aprendizagem. 

No caso da alfabetização, é possível ir além. O contato frequente com os livros e a transformação da sala de aula em um ambiente alfabetizador também ajudam a quebrar barreiras. 

“Antigamente, as salas de aula tinham apenas o alfabeto exposto. Agora, a gente fala de um ambiente alfabetizador, que expõe em suas paredes escritas que vão orientar a vida daquela classe. Alguns exemplos são o cartaz com os nomes dos aniversariantes do mês ou com a indicação da rotina da turma e a exposição de projetos que estão sendo feitos na sala de aula. A exibição de tudo isso na sala é motivo para as crianças tentarem entender o que está escrito”, orienta Sônia. Essas escritas se tornam referências para as crianças.  

Outra estratégia importante para a alfabetização é saber que alunos com desafios diferentes precisam de intervenções diferentes, de acordo com aquilo que cada um já sabe. “Uma pergunta disparadora de reflexões para uma criança pode ser: sobre que assunto estávamos lendo? Para outra, pode ser: qual palavra será que começa igual ‘maionese’? Ou seja, precisamos estimular os estudantes apoiando-os naquilo que eles já sabem para que eles desvendem o que ainda não sabem”, orienta Sônia. 

Vanessa costuma colocar isso em prática na sala de aula. Um exemplo foi quando a turma trabalhou o poema “Meu Nome”, que diz: “Quem quiser saber meu nome, dê uma volta no jardim. O meu nome está escrito numa folha de Jasmin”. Em uma das atividades, a professora dividiu a turma em grupos de acordo com as hipóteses de escrita e foi dando desafios ou dicas  diferentes para cada um deles. 

Para o primeiro grupo, pediu que os estudantes circulassem, na lousa, apenas as vogais da palavra “Jasmin”. Para o segundo, perguntou quantas sílabas tinha a palavra. Para o terceiro, questionou quais frases poderiam ser formadas com o nome da flor. Dessa maneira, a turma toda trabalhou em conjunto na mesma atividade, mas cada grupo foi desafiado de forma a desenvolver habilidades relacionadas às suas dificuldades e potencialidades. Outra estratégia seria organizar agrupamentos produtivos, em que crianças com diferentes hipóteses de escrita são reunidas no mesmo grupo e incentivadas a trabalhar coletivamente, para que aprendam umas com as outras.  

A seguir, confira mais algumas dicas para quebrar barreiras na alfabetização:

  • Conheça os estudantes. O primeiro passo para quebrar barreiras é conhecer a turma. Portanto, é essencial que os professores façam a escuta ativa e realizem avaliações iniciais para identificar quais são as dificuldades e potencialidades de cada aluno. Também é necessário conhecer quais meios favorecem a compreensão de cada estudante. 
  • Entenda que a alfabetização é um processo individual  e ajude os estudantes a também compreenderem isso. Na prática, isso significa valorizar tentativas, mesmo que terminem em respostas erradas, e incentivar os alunos a “brincarem de escrever”, o que quebra a ideia de que há certo e errado. 
  • Lembre que os alunos são crianças. Durante o ciclo de alfabetização, os estudantes são crianças que acabaram de sair da educação infantil, portanto, apostar em atividades lúdicas, como os jogos, pode ser uma boa estratégia. 
  • Pratique e estimule o diálogo. Ouça as dificuldades dos estudantes e os estimule a se expressarem das mais diversas formas, para que demonstrem seu raciocínio e suas hipóteses. 
  • Promova trabalhos em grupo. Uma das melhores maneiras de lidar com turmas heterogêneas é entender e acreditar que os estudantes aprendem uns com os outros, afirma Sônia. Por isso, as atividades em grupo são sempre muito bem-vindas, sobretudo quando mesclam alunos de níveis diferentes.  
  • Diversifique a avaliação. Dê aos estudantes diversas opções para expressarem seus conhecimentos e colete evidências de aprendizagem durante as atividades, e não somente em avaliações formais. 
  • Promova a criação de grupos de palavras “confortáveis”. Sônia indica ser importante que cada aluno tenha um grupo de palavras memorizadas, o que vai servir como apoio para conquistar mais vocabulário. Aqui, vale a pena pensar nos interesses de cada estudante. Por exemplo, se um deles gosta de futebol, pode memorizar nomes de times. 
  • Explore os multimeios. Para incluir todos os alunos, é importante explorar diferentes formatos, como áudio, vídeo, foto, registros escritos, e assim por diante. Pensar no engajamento também é essencial. Por exemplo, se a turma gosta muito de contos de fadas, esse pode ser um tipo de obra mais recorrente em sala de aula. 
  • Estimule o protagonismo dos estudantes e utilize metodologias ativas. Quando os próprios alunos são estimulados a, em grupos, pesquisar determinado assunto ou desvendar um desafio, por exemplo, a aprendizagem acontece naturalmente e com contexto, enquanto o professor tem mais tempo para observar a individualidade de cada criança. 
  • Estabeleça parceria com as famílias. Contar com a ajuda de pais e responsáveis é essencial tanto para o desenvolvimento de atividades em casa quanto para compreender mais as necessidades de cada estudante. No caso de alunos com deficiência, essa parceria é ainda mais importante, porque pais e responsáveis podem revelar ao professor estratégias que funcionam melhor com aquela criança. 
  • Lembre que a aprendizagem ocorre de várias maneiras. Marise afirma ser importante que os professores não estejam balizados por uma ótica desenvolvimentista das capacidades cognitivas, pois isso dificulta que possam vislumbrar ou apostar no processo de alfabetização quando estão diante de crianças que não falam (exemplo comum em crianças com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo [TEA]), pois o senso comum supõe que a escrita seja posterior à fala, contudo tal pressuposto é equivocado. 
  • Não tenha medo de mudar de estratégia. Avaliar e (re)planejar são processos constantes, e cabe ao professor encontrar sempre novas maneiras de engajar os alunos e colocá-los em contato com o conteúdo. 

“A chave é buscar, em cada criança, qual é a sua potência”, afirma Sônia. “Do que ela dá conta? Se ela adora música, eu vou trabalhar a consciência fonológica pela música. Se gosta de futebol, vou construir com ela um álbum, e as palavras fixas serão nomes de jogadores”, exemplifica. 

“Toda criança, independentemente da sua dificuldade, tem uma potência. É preciso não cobrir a potência com a dificuldade. Uma boa dica é: vamos fazer juntos para depois [cada um] fazer sozinho. Tudo o que uma criança não dá conta de fazer sozinha, talvez ela dê conta de fazer junto. Essa é uma regra mãe das outras. Ou seja, não abandone a criança com o saber dela. O professor tem de estar atento às pequenas conquistas”, completa a especialista. 

 

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