A notícia da chegada de um estudante com deficiência, autismo ou altas habilidades/superdotação costuma trazer incertezas aos educadores. A escola é acessível? Quais recursos buscar? Como ensinar o currículo? Essas dúvidas colocam em xeque muitas das práticas escolares mais tradicionais e, por isso, assustam. Mas elas são, também, o pontapé inicial de um processo que pode transformar a vida dos professores.
Foi o que aconteceu com Maria Luiza Conti Gerizani, docente de geografia na Escola Municipal Professor Vicente Bastos, em São Caetano do Sul (SP). No início deste ano, ela recebeu Danilo em uma de suas turmas de 1º ano do ensino médio — um jovem de 18 anos, com Síndrome de Down que “fazia questão de aprender”, explica. Segundo a professora, essa inquietação a fez rever sua prática pedagógica e deu novo fôlego a sua carreira.
Aulas “das antigas”
“Eu era uma professora muito técnica, das antigas”, ela conta. Antes do encontro com o estudante, Maria Luiza conta que suas aulas consistiam em explicar o conteúdo, perguntar se tinham dúvidas e esperar que os alunos estudassem. Nas aulas de geografia física, as atividades se limitavam a cadernos de mapa. Já quando o assunto era geografia humana, ela enchia o quadro-negro de ponta a ponta e pedia que copiassem.
Danilo não foi seu primeiro estudante público-alvo da educação especial. Há mais de 30 anos na profissão, a docente revela que já teve alunos cegos, com os quais trabalhou de maneira isolada. “Eles ouviam as aulas e, na hora da prova, escreviam as questões em braille e depois liam para mim.” Não havia um retorno deles, nem ela se preocupava em ir além disso.
Muito crítico e exigente, foi Danilo quem mostrou que o de sempre não seria mais o suficiente. “Ele deixava bem claro que não estava entendendo, mas que queria aprender.” Provocada com o interesse do estudante, Maria Luiza começou a estudar novos métodos para ensinar, complementando sua formação sobre educação inclusiva. “Passei a trabalhar em conjunto com os outros professores, a buscar novas estratégias para as minhas aulas. Ele me fez voltar a estudar.”
Novas formas de ensinar
As possibilidades de ensino que a professora descobriu a ajudaram a criar aulas mais interessantes não só para Danilo, como para toda a turma. Nesse processo de mudanças, os conteúdos sobre manto terrestre, por exemplo, extrapolaram a palavra escrita na lousa e se tornaram um rap que descreve as características da litosfera. Para falar sobre águas continentais e oceânicas, Maria Luiza levou água e sal para sala de aula. Os próprios estudantes criaram e experimentaram as misturas salinas. Já com o filme Procurando Nemo, ela despertou o interesse da sala para tratar de correntes marítimas e fitoplâncton.
A inclusão, revela, a fez perceber que é preciso se reinventar. A professora conta que, hoje em dia, está sempre pesquisando e procurando entender o que interessa e o que faz sentido para seus estudantes. Um mudança que encheu Maria Luiza de ânimo e abriu novos caminhos “Nessa altura da vida, eu talvez nem precisasse disso, mas eu quero me especializar em educação inclusiva.”