Protagonismo de estudantes, diversidade e trabalho colaborativo marcam projeto de fotografia de escola do município de São Paulo
Ezequiel se aproximou lentamente enquanto eu admirava uma das 250 fotografias da exposição. Um pouco tímido, entregou um pedaço retangular de papel e me convidou a fazer uma descrição de alguma das imagens. O objetivo era analisar a minha percepção sobre as cenas e memórias daquele espaço: o bairro de Parelheiros, localizado no extremo sul da cidade de São Paulo (SP) e zona de preservação da Mata Atlântica.
Ezequiel Feliciano é aluno do 7º ano do ensino fundamental do CEU EMEF Manoel Viera de Queiroz Filho, situado no mesmo bairro e sede da exposição fotográfica “Visões da nossa área”, realizada por cerca de 40 estudantes do ensino fundamental para o projeto de fotografia do contraturno escolar.
Pertencer e reconhecer o seu próprio lugar
“Retomar a história da nossa comunidade”. Foi assim que ele definiu o propósito da exposição. Utilizando câmeras cedidas pela escola, os estudantes fotografaram e registraram o cotidiano do entorno escolar, a fim de ressignificar a identidade e a história da comunidade.
Ao todo, foram mais de 1500 fotografias tiradas pelos estudantes, que também realizaram o trabalho de seleção e tratamento. Por meio da exposição, eles apresentaram um olhar sincero sobre a sua própria realidade, valorizando as potencialidades e reconhecendo os problemas e desafios da comunidade.
Para Carlindo Júnior, professor responsável pelo projeto, a fotografia carrega significados e transmite recados. Toda a exposição é uma percepção dos estudantes sobre a sua própria história.
O docente iniciou o projeto no início do ano com a intenção de resgatar a identidade dos alunos e alunas para empoderá-los. “A ideia é pertencer e reconhecer o seu próprio lugar”, avalia.
“Para que todos possam participar”
Os estudantes foram protagonistas em todo o processo de construção e desenvolvimento das aulas e da exposição. De acordo com Carlindo, ao longo do projeto eles manifestaram preocupação com a valorização da diversidade. Foi assim que decidiram tornar a exposição acessível a pessoas com deficiência.
Para isso, a exposição recebeu legendas em braile e audiodescrição, além de contar com acessibilidade física para cadeirantes. Em algumas fotografias, os estudantes utilizaram cola quente para aplicar alto-relevo e possibilitar identificação da imagem a pessoas com deficiência visual.
Kawã Gomes, aluno do 7° ano, explica o motivo pelo qual os estudantes tiveram a iniciativa de tornar a exposição acessível. “Para que todos possam participar”. A escola conta com cerca de 70 alunos com deficiência e Kawã acredita que toda a comunidade escolar pode experenciar a apresentação. Ele pretende seguir carreira de fotógrafo e continuar contando a história do seu bairro.
Além da acessibilidade, os estudantes também trouxeram para o projeto a prática da reciclagem, reutilizando e adaptando materiais para a montagem da exposição. Para construir o espaço expositivo, aproveitaram objetos que seriam descartados pela escola, como mesas velhas, caixas de papelão, jornais e CDs.
Trabalho colaborativo e protagonismo
Para a aluna Sara Brandão, esse processo de construção da exposição foi muito importante para todos os estudantes, já que despertou o trabalho em parceria e permitiu a todos participar das atividades propostas. “Me sentir parte do projeto foi o mais importante para mim”.
O trabalho colaborativo também favoreceu a autoestima dos estudantes. De acordo com a coordenadora pedagógica da escola, Gisele Rocumback dos Santos, o projeto marca o protagonismo dos estudantes e prova a excelência e qualidade da educação pública.
Além disso, os estudantes desenvolveram independência e ciência de que podem buscar o futuro que quiserem. “Temos alunas e alunos autônomos, detentores do conhecimento e autores da sua própria história”.