Era o meu primeiro ano trabalhando com alunos com necessidades educacionais especiais. Confesso que senti um pouco de medo de não conseguir atender aquele novo desafio. Comecei a trabalhar com uma turma de 30 alunos calmos, esforçados, somente a conversa exagerada deixava a desejar, mas nada que não pudesse ser contornado. Dentre eles tinha o Antônio (nome fictício).
Antônio não andava, tinha as pernas e os braços meio paralisados. Por isso, ele dificilmente falava. Era impaciente e muitas vezes chorava, gritava ou ficava quietinho com o olhar distante. No entanto percebi que ele gostava de ouvir histórias e cantar e comecei a fazer com que ele participasse como personagens das histórias que eu contava.
Fazia gestos das músicas, pedindo que os outros coleguinhas também o ajudassem a fazer. E as atividades lúdicas, por mais que ele não soubesse fazer com perfeição, eu sempre o fazia participar. Para minha surpresa, um dia enquanto estava escrevendo no quadro, eu ouvi Antônio contar uma das histórias que eu tinha contado. Ele dizia: “Zaqueu desce depressa, pois em tua casa eu vou pousar feliz”.
Confesso que eu fiquei muito feliz e as lágrimas vieram ao meu rosto.
E entendi que realmente o Antônio, como era chamado é muito, mas muito especial.
ELAINE CRISTINA DE OLIVEIRA GOMES, PROFESSORA MULTIDISCIPLINAL