O desafio maior com um aluno com psicose era a dificuldade de comunicação com ele. Uma turma bem numerosa, de 26 alunos, não me dava condições de passar o tempo individualizado que eu pretendia e gostaria com ele, para aprender com ele. Ele oralizava muito, mas sem que a gente conseguisse compreender. Ele tinha uma linguagem, mas incompreensível para o professor. E isso me angustiava muito, porque eu queria ouvi-lo para poder responder. Esse foi um fator que pesou bastante no início. E só com o tempo. O que eu procurei fazer: passar o máximo de tempo possível com ele. Até no recreio, no tempo do refeitório, eu ficava sempre com ele e tentava absorver ao máximo, quando ele estivesse com os alimentos, a forma com que ele falava, se comunicava, para eu poder aprender um pouco com ele e melhorar nossa comunicação. Esse foi um desafio grande inicial.
Só depois da metade do ano é que eu consegui travar um diálogo com ele. Por observar suas manifestações na sala de aula, no trato com os outros alunos. E eu fui conseguindo trabalhar de forma mais tranquila, porque até então eu tinha aquela preocupação: como eu vou me comunicar com ele? Como eu vou saber o que ele me diz e se ele me entende?
A própria metodologia me fazia ver que ele tinha a plena compreensão dos fatos. Na hora do recreio, as brincadeiras, o jogo de bola, quando eles brigavam até, ele tinha a compreensão de tudo. Ele só não conseguia se fazer entender pela oralidade.
E eu não encontrava uma forma mais prática e ágil de resolver, só mesmo com a convivência, com o tempo isso foi se tornando mais ameno. No final do ano já estava bem mais tranquilo.
ADRIANGELA BONETTI, EX-PROFESSORA DE SÉRIES INICIAIS / COORDENADORA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA