Parceria em prol de garantir o direito à educação infantil

A Escola Municipal Josefa Costa de Souza Moura fica localizada no bairro Piratininga em Itaquaquecetuba (SP) e oferece educação infantil para 259 crianças de 4 a 5 anos e ensino fundamental do 1º ao 5º ano para 918 estudantes. Estão matriculados na unidade 10 alunos com transtorno do espectro autista (TEA), seis com deficiência intelectual, três com deficiência física e um com deficiência auditiva, totalizando 20 estudantes público-alvo da educação especial.

Nosso município oferta o atendimento educacional especializado (AEE) de forma direta para o ensino fundamental e por meio de parceria com a APAE de Itaquaquecetuba para a educação infantil. Essa instituição conta com uma equipe multidisciplinar composta por pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos e fisioterapeutas.

Assim, a proposta para a educação infantil em nosso município é o trabalho colaborativo, que busca envolver docentes da sala regular e do AEE, gestão da escola, equipe da APAE, família e estudantes na definição de objetivos, constituindo laços de confiança mútua e de corresponsabilidade pelas ações. Para isso, o coordenador pedagógico, os professores do atendimento educacional especializado e a equipe da APAE, juntamente com o professor da sala regular, elaboram um plano de trabalho. O documento é revisto sempre que necessário. Destaca-se que a contribuição dos profissionais da sala de recursos multifuncionais (SRM) ocorre de forma não sistematizada, uma vez que eles atendem somente o ensino fundamental.

 

Plano de trabalho inicial

No início do ano letivo, recebemos a matrícula de uma garota de quatro anos chamada Kimberly. Ela havia iniciado sua vida escolar aos três anos de idade em uma creche privada da cidade e trazia consigo o diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA) e de deficiência intelectual. Ao chegar à escola, a estudante iniciou o acompanhamento com a equipe multidisciplinar da APAE, que a atendia no período da manhã.

Na unidade escolar, a professora da sala, com o apoio da coordenação pedagógica e colaboração dos professores do AEE, passou a conhecê-la e observá-la. Foi um processo inicialmente conturbado, pois a criança apresentava comportamentos agressivos e estereotipados: não parava sentada, se auto agredia, machucava os colegas e se jogava no chão chorando. Isso motivou nossa primeira reunião com a equipe que atendia a estudante na instituição parceira. Elaboramos conjuntamente um plano de trabalho, envolvendo todos que poderiam apoiar esse processo. Foram estabelecidos os seguintes objetivos:

• Escola: garantir um atendimento pensado na diversidade, articulando a proposta do acompanhamento em ação colaborativa com o Projeto Político-pedagógico (PPP) da escola. A partir daí, acompanhar o cumprimento dos encaminhamentos definidos para sustentação do trabalho proposto e, sempre que necessário, apoiar a articulação entre os profissionais da equipe multidisciplinar da APAE e os professores, definindo conjuntamente caminhos mais assertivos.

• Professor: realizar novas práticas que favoreçam a estudante e todo o grupo da sala. Além disso, organizar estratégias para desenvolver a tolerância da aluna diante das mudanças de rotina e de situações de conflito, momentos em que apresenta comportamentos de irritabilidade e agressividade. Ampliar sua autonomia em atividades da vida diária.

Além disso, promovemos encontros com a família, no caso, com a mãe. Isso foi importante pois, até então, quem acompanhava a vida escolar de Kimberly eram sua avó e tia. A mãe se fazia presente apenas na APAE e não na escola.

 

Primeiras observações

A rotina da estudante era bastante puxada para uma criança de 4 anos. Três vezes por semana ela realizava o atendimento educacional especializado na instituição e depois seguia para a escola. As aulas na unidade começavam às 11h00, mesmo horário em que Kimberly saia da APAE. Por isso, ela perdia um pouco da rotina escolar nesses dias.

Chamou-nos a atenção os episódios de autoagressão. Em conversas com a equipe da instituição, levantamos a hipótese de que a garota chegava à escola com fome, o que interferia em seu comportamento. Mudamos a rotina alimentar e a autoagressão diminuiu.

Notamos, também, outras características. A estudante era carinhosa, procurava por seus amigos, gostava de brincar com pratinhos e talheres… Assim Kimberly parecia buscar possibilidades de se comunicar conosco e nós com ela.

 

As contribuições do DIVERSA presencial

Todo o grupo que atendia a aluna foi convidado pela equipe da Secretaria de Educação do município para participar do DIVERSA presencial. A proposta da formação se encaixou perfeitamente com nossos objetivos. Nos encontros, foram apresentadas realidades vividas por outras unidades escolares de diferentes municípios. Isso nos auxiliou a articular a teoria da educação inclusiva com as atuais políticas públicas estabelecidas, contribuindo diretamente em nosso dia a dia.

Foram apresentadas e debatidas questões sobre a importância da colaboração para que os objetivos de nosso plano de trabalho fossem alcançados. E não somente com a Kimberly, mas também com toda a rede. Quando apresentamos as estratégias desenvolvidas com a estudante, nos sentimos apoiados e mais confiantes em continuar nossa parceria. Percebemos que trilhávamos o caminho certo.

Enquanto no DIVERSA presencial nos apropriávamos de situações positivas e de novos conhecimentos, em nossa escola aplicávamos essas novas ideias de acordo com nossa realidade. Assim, a coordenadora pedagógica e a professora da sala de aula propuseram algumas intervenções para estabelecer uma rotina para a estudante. Essas estratégias foram fundamentais, pois a garota aprendeu rapidamente maneiras de se comunicar com a docente por meio de gestos.

Ainda havia o problema do horário de entrada. Kimberly só conseguia chegar à escola por volta das 12h30 nos dias em que frequentava a APAE no período da manhã. Sem transporte escolar, a estudante realizava o trajeto utilizando as linhas comuns de ônibus, o que gerava bastante cansaço. Como ela já havia estabelecido vínculos com a professora da sala de aula, transferi-la para o período da tarde estava fora de cogitação. Para atenuar esse estresse, então, a aluna passou a ser recebida na escola inicialmente pela auxiliar de sala, que cuidava de sua higiene e alimentação. Isso a acalmava e a deixava pronta para iniciar uma nova rotina na sala de aula.

Com essas ações e com a organização metodológica desenvolvida por sua professora, a estudante mostrou avanços muito positivos. O fortalecimento dos laços afetivos entre as duas favorecia muito essas evoluções. Além disso, a unidade escolar estava sempre em contato com a equipe multidisciplinar da APAE e com os professores do AEE, discutindo avanços e barreiras para melhorar o atendimento à criança. Nove meses após o início do ano letivo na escola, a questão do transporte foi solucionada, o que facilitou a locomoção da responsável com a criança.

 

Continuidade das ações

Para dar continuidade ao processo de escolarização da Kimberly, planejamos matriculá-la em horário inverso ao atendimento da APAE no próximo ano. A unidade escolar promoverá reunião com os responsáveis da estudante, em conjunto com a instituição, para identificar as barreiras a serem superadas e traçar objetivos. Em seguida, coordenação pedagógica, equipe multidisciplinar da APAE e professora da sala regular atualizarão o plano de trabalho da estudante, pensando em suas especificidades, considerando as ações que deram certo no ano anterior e buscando novas estratégias para um novo contexto. Há a expectativa que o trabalho colaborativo entre a professora da sala regular com os docentes do AEE da unidade continue.

A pretensão da professora da sala é permanecer com a mesma turma para dar continuidade ao trabalho e aproveitar os vínculos afetivos estabelecidos. Caso isso não seja possível, a docente está em processo de finalização do portfólio de Kimberly, o que certamente facilitará o trabalho pedagógico do professor regente da classe.

Projeto participante do DIVERSA presencial.

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