Você não acha que a criança com deficiência deveria continuar a ser atendida por escolas especiais? Essa foi uma das perguntas que recebi durante uma palestra virtual que realizei há alguns dias para uma rede particular de ensino. A “webespectadora” era professora em Barbacena, MG. Concluiu argumentando que a maioria das escolas estava despreparada para acolher crianças com essa particularidade.
A concepção de uma educação inclusiva não surgiu por acaso. É fruto de um histórico de reflexões, experiências e aprendizados orientados pela ideia de que todo ser humano tem o direito de ser tratado como igual. Isso quer dizer que toda criança deve receber o mesmo tipo de atendimento? Nem sempre. Tratar como igual não é sinônimo de tratar igualmente. No caso de uma criança com alguma deficiência, parece não haver dúvida de que seja necessário um atendimento especializado, conduzido por profissionais capacitados. O modelo recentemente adotado pelo nosso Ministério da Educação prevê que isso ocorra no contra-turno das aulas “comuns”, de forma a zelar pelo direito da criança frequentar também a sala de aula regular e desfrutar de seus benefícios e desafios. Não se trata, portanto, de substituir, mas de somar.
É claro que estamos falando de um assunto delicado, cuja implementação é extremamente complexa. Meras generalizações não dão conta do recado. No entanto, se estamos de fato comprometidos com o ideal da igualdade, esse debate é inadiável. E por quê isso diz respeito a cada um de nós? Basta nos perguntarmos como seríamos hoje se, durante toda infância, fôssemos privados do contato com o ambiente escolar “normal”. Ou, por outro lado, se não seríamos mais preparados para a vida em uma sociedade plural se tivéssemos interagido com crianças de toda natureza. De forma rotineira, natural. Como diz o amigo Lino de Macedo, em pleno século XXI, educação inclusiva deveria ser um pleonasmo.
Rodrigo Hübner Mendes é fundador do Instituto Rodrigo Mendes, organização que desenvolve programas de educação inclusiva. É mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas (EAESP), membro do Young Global Leaders (Fórum Econômico Mundial) e Empreendedor Social Ashoka.
Artigo originalmente publicado na Revista TAM nas Nuvens, edição 21.
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