“Motoca na praça”: diversas formas de aprender com o território

Professoras da EMEI Armando de Arruda Pereira levam crianças para explorar o bairro, respeitando os ritmos de aprendizagem de cada uma delas

As professoras da EMEI Armando de Arruda Pereira viram na circulação pela Praça da República, na região central de São Paulo onde a escola está localizada, muito potencial de aprendizagem para as turmas da educação infantil.

Partindo da necessidade de vincular as crianças ao território e o bairro à escola, a professora Lívia Arruda idealizou o projeto “Motoca na praça”, reconhecido pelo Prêmio Territórios, promovido pelo Instituto Tomie Ohtake em 2022. A iniciativa permitiu que as turmas ultrapassassem os muros da escola e acessassem diversas formas de aprender com e no território.  

Desde o início da excursão as crianças são acompanhadas de perto: seja com orientações sobre o pedalar, chamando a atenção para o trajeto, atenção aos demais colegas, e até mesmo uma ajuda na hora de manejar os triciclos, como ajustes de direção e/ou de força, visando superar determinados obstáculos. 

No minidocumentário produzido pelo Tomie Ohtake, a educadora Ivone Moreira afirma que a prática é inovadora e foge à lógica do ensino tradicional: “A criança decidir para onde ela está indo não foi o que eu aprendi na faculdade. Para mim, essa é a cidade educadora.” 

O projeto aposta no desenvolvimento da autonomia desde cedo. Esse propósito dialoga com os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da educação infantil,  como indica a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Nesse sentido, é fundamental que as crianças sejam incentivadas a “agir de maneira independente, com confiança em suas capacidades, reconhecendo suas conquistas e limitações”.

Quando a infância ganha espaço

As saídas, que acontecem semanalmente, têm como objetivo fortalecer a relação da comunidade escolar com o território, utilizando-o como espaço de aprendizagem e experiência.

Durante os passeios, as crianças são divididas em grupos. Para garantir a participação plena e segura de todas, é definido o número de adultos que irão acompanhar a atividade, de acordo com o tamanho de cada grupo, de modo que as necessidades de cada um sejam contempladas. As educadoras destacam o respeito ao tempo e ao ritmo de cada criança. 

Seja pedalando as motocas ou a pé acompanhando o grupo, no caso dos adultos, todos saem para conhecer a cidade usando coletes com o nome da escola para facilitar a identificação e prezar pela segurança. 

Em calçadão no centro de São Paulo, crianças com coletes amarelos pedalam motocas. Fim da descrição.
EMEI Armando de Arruda Pereira. Fonte: @projetomotocanapraca.

Além do contato das crianças com as regiões próximas à escola, incentivando a apropriação e a ocupação dos espaços públicos, o projeto tem momentos para que elas compartilhem reflexões acerca da experiência, com rodas de conversas antes e depois dos passeios; interajam com outras pessoas do bairro; e registrem as vivências por meio de desenhos e fotografias. 

Essas ações condizem com as habilidades EI03EF01 e EI03ET04 da BNCC, que, respectivamente, dizem respeito à expressão de ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão, bem como ao registro de observações usando múltiplas linguagens, em diferentes suportes. 

Para viabilizar passeios cada vez mais ricos em termos de acesso e conhecimento, a EMEI tem feito parcerias com instituições e espaços culturais e sociais do entorno. 

De acordo com Eni Pereira, diretora da unidade, a proposta dá visibilidade às crianças como parte da cidade: “O projeto ‘Motoca na praça’ faz o outro enxergar a gente, independentemente de estar no ambiente ou não da educação. A gente quebra preconceitos, faz com que as crianças sejam enxergadas e que o ato de educar fora do padrão esperado seja visto também. Então, é um ato de resistência, sim!” 

Acessibilidade nas motocas

Zaira, mãe de uma das participantes do projeto, alega que a iniciativa promove liberdade e autonomia: “Proporciona que as crianças brinquem de forma diferente, ocupando a cidade que não foi feita para elas, porque a cidade não foi construída para elas, nem pensada para elas.” 

E, pensando em garantir essa liberdade a todas as crianças por meio de passeios inclusivos, a escola assegurou recursos de acessibilidade. Dessa forma, a frota de transportes infantis também é composta por carrinhos de passeio com encosto e cinto para as crianças com deficiência física, sejam elas usuárias de cadeiras de rodas ou com mobilidade reduzida. 

Os passeios também incluem visitas a outros equipamentos culturais presentes no entorno, como a Biblioteca Mário de Andrade, o Centro Cultural Banco do Brasil, o Edifício Copan e o Teatro Municipal.

Motocas paradas perto de parede em bicicletário do Sesc 24 de Maio. Duas crianças com coletes amarelos aparecem entre as motocas e o espaço das bicicletas, ao lado. Fim da descrição.
Foto: EMEI Armando de Arruda Pereira. Fonte: @projetomotocanapraca.

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