Escola transforma jogos de ciranda e dança para alunos com e sem deficiência brincarem juntos

A Escola Municipal de Educação Básica Professora Alzira Valladares se localiza em Cuiabá (MT) e atende 268 crianças do ensino fundamental I. Desde o início do ano letivo de 2015, a professora de educação física da unidade vinha realizando brincadeiras de roda ao som de músicas infantis para aquecer e relaxar os estudantes antes e depois das aulas. Durante esses momentos, seus alunos com deficiência demonstravam grande interesse, indo para o centro da roda dançar ou inclinando o corpo no ritmo das canções. A partir dessa observação, decidimos nos aprofundar nessas práticas lúdicas e desenvolvemos o projeto “Ciranda da Alzira, incluindo com alegria”.

Em uma primeira etapa, verificamos o que as crianças conheciam sobre atividades rítmicas e escolhemos aquelas que seriam praticadas. As duas turmas de 2º ano que participaram do projeto revelaram um bom conhecimento sobre o tema. Os estudantes destacaram o balé, as danças regionais e brincadeiras como batata-quente, corre cotia e história da serpente. Devido a sua importância para a cultura mato-grossense, optamos por iniciar as atividades com oficinas de Siriri.

Entre os 81 alunos que participaram das atividades de ciranda um possui Síndrome de Down, dois têm deficiência intelectual, um tem deficiência intelectual e física e outro possui Síndrome de Cruzón.

Dança regional e brincadeiras de ciranda 

O siriri é uma dança típica do Centro-Oeste brasileiro e reúne elementos culturais da miscigenação entre negros, índios, portugueses e espanhóis que ocuparam a região ao longo dos séculos. De ritmo intenso e alegre, é praticada por crianças, homens e mulheres em festividades religiosas ou em terreiros. Seus movimentos são caracterizados pela espontaneidade e falta de rigor e fazem referência a brincadeiras e jogos de origem indígena.

Os aspectos históricos e culturais dessa manifestação corporal foram apresentados às turmas por meio da exibição de vídeos de grupos de dança. Depois, os estudantes foram estimulados a executar alguns gestos ao som da “Nandaia”, canção folclórica bastante conhecida. Em um primeiro momento, eles ouviram e realizaram os movimentos livremente, de acordo com o que entendiam da letra. Ao longo da aula, a professora de educação física foi ensinando alguns passos coreografados e eles a seguiram.

Após as oficinas de siriri, passamos a praticar brincadeiras de ciranda. Para garantir que todos pudessem brincar juntos, alteramos algumas regras e reforçamos o auxílio em casos de dificuldade. As atividades praticadas foram:

• Batata quente: sentados em círculo, os alunos passaram a bola de mão em mão, enquanto um colega cantava a música. Na versão tradicional da atividade, aquele que estivesse com a bola ao término da canção seria eliminado. Na batata quente praticada no projeto, o jogador “queimado” dava prosseguimento à brincadeira se afastando para iniciar outra rodada.

• Corre cotia: com uma bola em mãos, uma criança andava ou corria por fora da roda. Quando a canção terminava, ela colocava a bola atrás de um colega sentado, que deveria se deslocar para tentar tocá-la antes que ela tomasse seu lugar. Para que todos pudessem brincar, ninguém era excluído e não era permitido escolher quem já tivesse participado.

• Dança das cadeiras: iniciamos a atividade com um assento a menos que o número de estudantes. Quando a música parava de tocar, todos deveriam estar sobre as cadeiras e nenhum pé poderia tocar o chão. A cada rodada, um lugar foi retirado, até que restassem muitos jogadores, mas poucos assentos. Com isso, as crianças precisaram trabalhar em conjunto.

• Atenção-concentração: essa brincadeira possui muitas versões e nós a realizamos dando destaque ao tema da alimentação. Seguindo a ordem da roda, os estudantes falavam alguma palavra. Se fosse um alimento, todos deveriam bater três palmas. Não havia nenhum tipo de penalidade para quem errasse.

• História da serpente: a professora iniciou a brincadeira circulando entre os jogadores sentados no chão. Enquanto cantava, ela parava na frente de alguma das crianças e a escolhia para entrar no fim da fila. O aluno, então, passava por debaixo das pernas de quem estivesse “no rabo da serpente” e parava no final da fila.

Avaliação e continuidade do projeto

Desde o início do “Ciranda na Alzira”, nossa maior preocupação foi com o envolvimento das crianças sem deficiência, que poderiam achar as atividades rítmicas menos divertidas que os jogos com os quais estavam acostumadas. Com o passar das aulas, contudo, poucas demonstraram resistência e a maioria participou com entusiasmo. Já os estudantes com deficiência, que antes não manifestavam interesse nas aulas de educação física, se mostraram mais participativas e felizes.

Um ponto falho do projeto foi a falta de diálogo com a comunidade escolar. Como nos preocupamos com o planejamento das aulas e a flexibilização das brincadeiras, deixamos de prever ações para mobilizar pais, familiares e outros docentes da escola. Cientes dos erros e acertos vividos nessa experiência, para os próximos anos, temos a intenção de implementar um projeto circense interdisciplinar na escola, para que a inclusão seja uma preocupação constante e para que nossos estudantes com e sem deficiência possam brincar e se divertir juntos.

Projeto participante do Portas Abertas para a Inclusão 2015.

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