Escola estimula cooperação entre alunos reformulando brincadeiras

A Escola Municipal Parque Bolonha se localiza no bairro das Águas Lindas, em Belém (PA), nas proximidades do Parque Ambiental do Utinga. A unidade funciona em três turnos e possui 654 estudantes matriculados na educação infantil e no ensino fundamental. Na sala de recursos multifuncionais (SRM), o atendimento educacional especializado (AEE) era oferecido para crianças com mobilidade reduzida, baixa visão, transtorno do espectro autista (TEA) e deficiências física, visual e intelectual. A falta de estratégias pedagógicas flexibilizadas, contudo, era uma barreira que impedia a inclusão efetiva desses alunos. A partir dessa observação, resolvemos criar um projeto de jogos de cooperação nas aulas de educação física com o objetivo de conscientizar a escola sobre a importância de criar uma cultura inclusiva em todos os ambientes.

As brincadeiras foram selecionadas por não serem competitivas e proporcionarem momentos de colaboração, de participação efetiva e de superação das limitações. Cerca de 90 estudantes do 2º ao 4º ano participaram das atividades. Três deles têm deficiências múltiplas, dois têm deficiência intelectual e uma é cega.

O projeto foi desenvolvido em momentos distintos para cada turma. Antes da prática, realizamos aulas-debate e simulações. A professora de AEE conversou com as crianças sobre as diferenças entre omissão, competição e cooperação. Nessa atividade, eles puderam compreender a importância do respeito às singularidades de cada sujeito do grupo. Em outra situação, planejamos aulas sobre as deficiências presentes no ambiente escolar para que os alunos aprofundassem seu entendimento. Eles demonstraram muito interesse pelos recursos materiais utilizados no AEE. Depois, realizamos uma oficina de sensações, na qual os estudantes eram vendados e deveriam identificar cinco objetos sobre uma bancada sem utilizar a visão.

Os jogos de cooperação

Em quadra, o professor de educação física promoveu as brincadeiras “seguindo o chefe”, “dança das cadeiras” e “futebol de cinco” com as turmas. As atividades aconteceram da seguinte maneira:

Seguindo o chefe: Na versão original, um chefe executa movimentos e o restante do grupo deve copiá-lo. No jogo flexibilizado para o projeto, os estudantes foram divididos em cinco grupos:

  • Todos são cegos e não têm o braço esquerdo
  • Todos são cegos e não têm o braço direito
  • Todos são cegos e não têm braços
  • Todos são surdos
  • O chefe não tem braços

O comando do chefe e a repetição dos movimentos foram executadas de acordo com as características de cada grupo. Com isso, os alunos perceberam que cada tipo de corpo experimenta o movimento de maneira singular.

  • Dança das cadeiras: diferente da atividade tradicional, na qual um participante é sempre excluído quando a música cessa, a dança das cadeiras desenvolvida na escola teve como objetivo fazer com que todos terminassem a brincadeira sentados. A cada rodada, uma cadeira foi retirada e, quando a música acabava, todos deveriam compartilhar os assentos.
  • Futebol de cinco: as crianças foram vendadas e, antes de jogar, tiveram uma atividade de ambientação com a falta de visão com uma brincadeira de “gato mia”. Em seguida, o jogo começou. Como o esporte tradicional é uma modalidade de competição, adotamos uma dinâmica mais cooperativa e, ao invés de realizar passes e arremessos até o gol, os estudantes fizeram uma grande corrente humana para levar a bola de mão em mão até a meta.

Avaliação e continuidade do projeto

Durante os jogos, foi possível observar que os estudantes passaram a se enxergar como companheiros e não como adversários. Ao estabelecer um objetivo comum a todos, as crianças reforçaram os laços de confiança em seus colegas. Hoje em dia, observamos que a maioria deles se coloca à disposição para ajudar os colegas com deficiência em diversas situações da rotina escolar.

A equipe responsável compreende a necessidade da permanência das ações e pretende não só continuar com o projeto de jogos de cooperação no próximo ano, mas também incluí-lo no projeto político pedagógico (PPP) da Escola Municipal Parque Bolonha.

Projeto participante do Portas Abertas para a Inclusão 2015.

Deixe um comentário