Relatos iniciais do DIVERSA

A experiência relatada se deu com um grupo de 32 alunos do 8º ano, com idade entre 13 e 18 anos (sendo dez desses com necessidades educacionais especiais: quatro surdos, um com distúrbios de linguagem e comprometimento neuromotor, um com deficiência intelectual e lateralidade cruzada e quatro em avaliação psicológica) do Ensino Fundamental. Num contexto cuja pluralidade cultural oportuniza e desafia à novas possibilidades de conviver com as diversidades, promovemos o conhecimento intelectual e as relações humanas por processos interativos de comunicação e inclusão por vivências musicais, investigando a contribuição da música no desenvolvimento intelectual e social dos alunos. Como feito, realizamos aulas expositivas com conteúdos básicos sobre música; apreciação musical; musicalização de poema; oficinas diversas com vivências rítmico-sonoras; oficina para construção de instrumentos musicais com materiais recicláveis; produção de relatórios; formação de lideranças e monitores.

Antes de dar início a presente proposta pedagógica buscou-se uma melhor formação a fim de conhecer mais, estimular e preparar melhor as aulas, através de leituras de textos, pesquisa em filmes, documentários, vídeos, relatos de experiências, conversas com outros profissionais e vivência da prática de instrumentos percussivos, através de oficina ministrada na própria escola, para os professores. Na perspectiva de uma maior socialização na comunidade escolar, realizou-se encontros com os pais dos alunos para apresentar a proposta de educação musical a ser desenvolvida na escola e contar com a participação desses, os inserindo nas atividades a fim de reforçar, resgatar os laços afetivos, valores familiares e sociais, como também o acompanhamento na aprendizagem e educação dos filhos como um todo. Esse procedimento foi bem receptivo no decorrer das atividades realizadas com os educandos. Essa integração família, alunos, professores (em particular, a professora do Atendimento Educacional Especializado durante todo o desenvolvimento do trabalho, do professor de ensino religioso; o apoio e credibilidade da gestão da escola) vem transcorrer na expressão de sentimentos, espontaneidade, sensibilidade, de modo que o fazer e a emoção se encontrem livres.

Certamente, esses jovens aprenderam a fazer muitas coisas, dentre elas a produzirem relatórios sobre cada encontro, uma forma de potencializar a aprendizagem nas relações de busca, pesquisa, atenção, construção e criatividade. Também aprenderam a fazer, quando musicalizaram poema cujas estrofes foram divididas na turma (estilo jogral); daí foi colocado um ritmo, criado pelo grupo responsável pela percussão – na apresentação da culminância do trabalho – cujos sons foram retirados de instrumentos produzidos por eles mesmos.

As reuniões em círculo, o olhar, o contato, as partilhas e as oficinas ganharam força no aprender a viver juntos. Na oficina de instrumentos percussivos, a turma foi dividida em cinco grupos, sendo o maior desafio para o grupo que, na apresentação final, era o responsável pela percussão, pois este era composto por quatro surdos, dois alunos bateristas e o professor intérprete em libras.

Logo no início, com a observação de que a turma era meio dispersa, desunida e indisciplinada, foi oportunizado a alguns estudantes, considerados “mais difíceis”, a experiência da responsabilidade de “aprender a ser” de uma forma mais intensa. Então, lhes foram atribuídas lideranças e outras funções as quais tiveram um efeito transformador na vida desses jovens.

Durante o desenvolvimento do trabalho, também se verificou, em atividades como a máquina sonora, que no início, a maioria dos alunos apresentavam dificuldades por muita timidez, vergonha, insegurança e medo de se expor e que resultou num efeito inovador, contagiante e motivador para os alunos que superaram suas emoções e/ou sentimentos a fim de participarem. Ao lado dessa atividade, relata-se a passagem de uma música (Dig Dan-autor desconhecido) em que os estudantes “não demonstraram interesse” em cantar, falavam ao mesmo tempo dando outras sugestões ou desculpas para não participarem. Passando a música em pequenos grupos, a partir de um ou dois alunos (os surdos punham suas mãos no pescoço dos colegas para sentirem as vibrações do som e participarem do momento), todos cantaram entusiasmados, sendo maravilhoso ver o crescimento, a superação e a alegria desses jovens estampada em seus rostos. O que parecia tão difícil para eles, ficou tão resolvido, algo novo, diferente e bom de fazer.

Os alunos apresentaram aos pais, professores e colegas, práticas de vivências rítmico-sonoras, cantaram e coreografaram músicas ao som de percussão com materiais e sons produzidos por eles.

Os resultados permitem perceber que a experiência vivenciada por esses alunos pondera a pedagogia da música na escola, suas relações no conhecimento e na comunicação de pessoas diferentes, no respeito a essas diferenças vivenciadas no dia a dia da escola, com a educação e a formação do indivíduo e seus amplos e variados benefícios trazidos ao homem.

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