Primeiramente é necessário reconhecermos a dificuldade da maioria dos educadores em trabalhar com grupos heterogêneos, uma vez que a boa parte foi formado não apenas academicamente, como social e afetivamente sob o paradigma da segregação e da integração. Ou seja, grande parte não estudou com pessoas com deficiência, portanto, é bastante difícil acreditar no potencial dessas pessoas, que excluídas garantiam o lugar da normalidade para aqueles que tinham direito ao sucesso escolar.
Os mitos construídos particularmente em relação a idade mental das pessoas com deficiência justificavam o seu isolamento, muitas vezes eterno, em classes e escolas especiais, assim como a sua institucionalização. A exclusão residia na própria pessoa por ser deficiente e não na sociedade que a segregava. Sugerimos a leitura do artigo “O desenvolvimento de alunos com deficiência intelectual e o mito da idade mental” que aprofunda essa questão: diversa.org.br/artigos/o-desenvolvimento-de-alunos-com-deficiencia-intelectual-e-o-mito-da-idade-mental. Do ponto de vista acadêmico, nos cursos de licenciatura, quando existia uma disciplina de educação especial, era uma matéria a parte, muitas vezes baseada nos parâmetros médicos de cada uma das deficiências.
Entretanto, apesar de ser fundamental garantirmos a acessibilidade e o desenvolvimento de tecnologias assistivas para o atendimento as especificidades das pessoas com deficiência, é igualmente essencial considerarmos as mesmas como pessoas com os mesmos direitos ao acesso e a participação plena na sociedade. Pois a deficiência não se encerra no corpo, ela consiste no produto da relação entre um corpo com determinados impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial e um ambiente incapaz de acolher as demandas arquitetônicas, informacionais, programáticas, comunicacionais e atitudinais que garantem condições igualitárias de inserção e participação social. Um aluno com deficiência intelectual de 15 anos não é uma criança de 4 anos, é um jovem que já viveu 15 anos, uma pessoa com uma história única, com dificuldades, potencialidades, desejos…
O grande desafio que a inclusão impõe à sociedade é lidar com a diversidade e buscar respostas a pessoas e situações diferentes para gerar experiências significativas de participação para todas e todos, garantindo acessibilidade. Mas como podemos transformar a perspectiva e consequentemente a prática no cotidiano escolar de forma a buscar a equidade e não transformar as diferenças em desigualdades? Um dos caminhos possíveis é promover a reflexão com o grupo de educadores, coordenador pedagógico, professores das salas regular, educação física, informática, do AEE etc, para identificar quais as barreiras impedem o aprendizado desse determinado aluno: está na apresentação do conteúdo? No desenvolvimento? Na avaliação? Na linguagem utilizada? Na falta de acessibilidade?
Para reconhecer: quais vias de aprendizagem o aluno demonstra estar mais à vontade? Pensam e aprendem através da escrita, da fala, da memória e da recordação? Aprendem através de sons, da rima, do ritmo e da repetição? Pensam e aprendem através de recursos visuais? Gostam de arte, podem facilmente ler mapas, diagramas e gráficos? Pensam e aprendem através do movimento, de jogos e do teatro? Pensam e aprendem através do raciocínio e do cálculo? Aprendem em grupos através do trabalho conjunto? Aprendem através da concentração pessoal e da autorreflexão? Preferem trabalhar sozinhas? Qual o conceito central deste determinado conteúdo? Como posso avaliar o desenvolvimento da aprendizagem deste aluno, que não seja exclusivamente através da escrita? Essas questões dentre outras devem orientar tanto o trabalho a ser desenvolvido em sala, como no atendimento em sala multifuncional que é necessariamente complementar e não substitutivo.
Conhecer o aluno e seu grupo é, portanto, o primeiro passo para o planejamento pedagógico. Deve-se reconhecer que as crianças com deficiência podem ter necessidades que devem ser satisfeitas para que possam ter sucesso na escola, e que o plano de aula deve contempla-la, e que o professor da sala é o seu professor.
Podem ser requeridas acomodações diversas para atender as necessidades individuais das crianças juntamente com a abordagem da acessibilidade geral das escolas na perspectiva do desenho universal, mas as atividades devem ser propostas ao grupo classe. Na situação específica seria interessante pensar em como trabalhar a resolução de problemas utilizando outras vias de aprendizagem além da lógica/matemática, como a verbal/linguística; musical/rítmica; visual/espacial; corporal/sinestésica; interpessoal ou intrapessoal. Por exemplo: uso de jogos (existentes ou confeccionados especialmente para o grupo), jogos motores (jogos cooperativos – basquete amigo, quem tem mais bolas), entre outros.
Posteriormente em grupos heterogêneos sistematizar os problemas em varias linguagens: matemáticas, escrita, desenho, material concreto, musicadas. Uma vez que que o uso estratégias variadas favorece o aumento da compreensão dos conceitos e das atitudes, a rotatividade dos papeis (permitindo a alternância de lideranças, do aprender e ensinar) pode criar situações de colaboração e interdependência entre os jovens. Lembrando sempre que na educação inclusiva não há receitas prontas, e que cabe aos educadores e seus pares, que conhecem seus alunos, as escolhas do caminhos pedagógicos para garantir o aprendizados de todos e cada um dos alunos, de preferência com a participação ativa dos mesmos.