Relatos iniciais do DIVERSA

Esse trabalho teve inicio a partir das necessidades no processo de escolarização de um educando com distrofia muscular matriculado em uma unidade de ensino fundamental, na 8ª série. O estudante faz uso de uma cadeira adaptada, passando muito tempo deitado. Utiliza uma forma de comunicação alternativa, criada por ele e sua mãe: para as respostas positivas, ele pisca os olhos e para as negativas, movimenta a cabeça de um lado para o outro em movimentos bem sutis. Forma palavras ou frases piscando na letra do alfabeto que falamos para ele em um sistema de varredura. Esse foi o meio de comunicação adquirido no início de sua alfabetização. Esboça um pequeno movimento desarticulado da mão esquerda, mas não consegue pegar objetos, não tendo força para realizar o movimento de pinça com as mãos ou de controle do movimento do braço. Tem cognição preservada e ótima audição. Utiliza um aparelho respirador e aspirador artificial ligado a uma cânula inserida em traquéia o que os médicos chamam de traqueostomia e sua alimentação ocorre por meio de sonda. Ele apresenta uma alteração na visão, necessitando de ampliação e de estar próximo ao quadro para a leitura. Necessita de aprimoramento da comunicação para sinalização de pontuação para as produções de textos. Possui grande desejo de estudar e é muito questionador.

Foi necessário conhecer o estudante, sua comunicação e suas necessidades especiais para encontrarmos juntos soluções e alternativas para oferecer complementação em seu processo de aprendizagem. Ter acesso as informações sobre seus quadros progressivos ou estáveis, alterações ou não da sensibilidade tátil, térmica ou dolorosa; se existe outras complicações associadas como epilepsia ou problemas de saúde que requerem cuidados e medicações (respiratórios, cardiovasculares, etc.). Essas informações auxiliarão no atendimento do professor especializado, do professor de educação especial e dos professores das áreas específicas.

Para que o educando com deficiência física possa acessar ao conhecimento escolar e interagir com o ambiente que frequenta, faz-se necessário criar as condições adequadas à sua locomoção, comunicação, conforto e segurança. Nesse caso, oportunizar o aluno às experiências da escola em sua residência. O desafio de pensar alternativas para o trabalho pedagógico com o aluno veio em conseqüência da alteração do sistema visual, da necessidade de inserir outras disciplina e conteúdos diversos em seu dia de aula e teve envolvimento de muitos atores: professor especializado, escola, família, coordenação de educação para a diversidade e inclusão educacional e tantos outros. Acreditando sempre no potencial do aluno, pensamos em alternativas para aproveitarmos todas as possibilidades de ensino.

Primeiro precisávamos de uma alternativa para garantir que o aluno ficasse um tempo maior sentado em sua cadeira. Pensamos que se a cadeira ficasse mais elevada na frente ele teria mais apoio. Cconseguimos isso elevando sua cadeira uns 20 centímetro com blocos de cimento. Vários objetos que favorecem a aprendizagem foram pensados, confeccionados e alguns adquiridos pela família. Para a leitura e escrita pensamos em um suporte que pudesse ficar próximo ao aluno, um apoio do quadro confeccionado com cano PVC que utilizamos todos os dias, esse suporte também era utilizado nas aulas de artes. Criamos juntos sinais para sinalização de pontuação nos textos produzidos, levantar o braço e erguer as sobrancelhas significa ponto de interrogação, erguer o braço significa ponto final, erguer o braço duas vezes dois pontos para os diálogos. Buscamos junto a profissionais da secretaria da área de informática programas e softwares que pudessem ser utilizados nas aulas. Os materiais e os sinais são planejados, analisados e submetidos a uma avaliação técnico-pedagógica para constatar a sua eficácia no atendimento das necessidades do aluno.

Algumas aulas são planejadas com recursos de filme, slides e com a utilização de um aparelho chamado episcópio. No currículo escolar estão previstos temas como: meio ambiente, área de ciências naturais e sociais e artes, que são os preferidos do aluno. As atividades são planejadas sempre com o objetivo de envolvê-lo cada vez mais nos temas com sua participação efetiva em todos os momentos. Vale ressaltar que, dentro das suas condições clínicas, com autorização médica, o aluno participa de atividades com a turma, na escola ou em casa. Garantindo o convívio com os seus pares tão necessário à aprendizagem. Esse trabalho só é possível pela parceira existente entre a escola e a família, que defendem o direito a educação de todos e acreditam nas possibilidades de aprendizagem.

As aulas aconteciam e as ideias surgiam juntamente com as discussões com o aluno. Todos os envolvidos nas aulas se empolgam com as respostas positivas do aluno. As aulas de artes foram enriquecidas com exposições virtuais. O aluno pintou alguns quadros e organizamos uma exposição dos seus trabalhos para os colegas da escola visitar. O suporte do quadro é utilizado para as aulas, o apoio para as rodas dianteiras da cadeira foi mudado por um apoio de madeira confeccionado pelo pai e tio do aluno. Com esse recurso o aluno conseguia ficar durante um tempo maior na cadeira. Os recursos utilizados deixavam o aluno mais envolvido, mais empolgado e dedicado aos estudos. Os novos sinais contribuíram para uma produção do aluno que escreveu um livro de romance, onde ele fala de uma paixão por uma colega desde sua infância. Em sua narrativa o aluno pode resgatar fatos e histórias importantes para ele e sua família. Essa dinâmica o deixou muito feliz e realizado. Todo material e sinais criados serão utilizados para os próximos anos de escolarização. Após análise e reflexões do uso e os avanços e conquistas do aluno com o uso dos recursos citado anteriormente.

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