Formação ajuda equipe de escola a coletivizar responsabilidade por alunos com deficiência

A Escola Municipal Padre Francisco, localizada em Cruzeiro (SP), oferece ensino fundamental II para 274 crianças e adolescentes. Desses, 26 têm deficiência física ou intelectual. No ano de 2017, a escola recebeu muitos estudantes novos e docentes recém formados. Toda a equipe teve muita dificuldade para trabalhar com os chamados “alunos de inclusão”. Desse modo, foi realizado um trabalho de despertar para a educação inclusiva, para que os estudantes público-alvo da educação especial da unidade passassem a ser vistos como responsabilidade de todos e não somente do professor de apoio.

Nosso primeiro passo foi conversar sobre os papéis do docente regente e do de apoio com a equipe da escola durante o horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC). Alguns compreenderam nossa proposta de coletivizar o trabalho entre esses dois educadores e abraçaram a causa. Mas muito se mostraram indiferentes. Diante disso, a equipe de supervisão e assistência pedagógica decidiu buscar ajuda para viabilizar a construção de uma escola mais inclusiva.

Foi quando conhecemos o DIVERSA presencial. A formação em serviço oferecida pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM) articula a teoria e a prática da educação inclusiva a partir da discussão de situações reais. Considerando as dificuldades relatadas pelos professores, escolhemos, então, trabalhar o caso de Bruno*, nosso estudante do 6º ano de 15 anos com Síndrome do X Frágil.

 

Responsabilidade de todos

Bruno, sentado no fundo da sala, achando tudo muito chato, não diferenciava letras de números, nem sabia porque estava ali. Sua permanência na escola se resumia a muitas idas ao banheiro, passeios pelo pátio e inquietação em sala de aula. Porém, a cada encontro do DIVERSA presencial, mudanças surgiam, e os professores reinventaram sua prática pedagógica.

Para tornar as aulas mais interessantes para Bruno e sua classe, procuramos explorar os eixos de interesse da turma. Nas aulas de história, o professor mudou o formato de suas avaliações. Ao invés da prova puramente escrita, ele incorporou desenhos, figuras e histórias em quadrinhos. As questões pediam que os alunos observassem as vestimentas dos personagens, os meios de transporte que usavam e relacionassem esses elementos com o que sabiam sobre o período histórico representado.

Em geografia, um jogo de perguntas e respostas que agitou a turma. Nessa atividade, Bruno foi o responsável por acionar o botão. Ocupando uma posição importante para a atividade, ele se sentiu valorizado e sua autoestima aumentou diante dos colegas. Nas aulas de português, usamos o alfabeto móvel em atividades de formação concretas de palavras. Também em matemática aproximamos as atividades da vida dos estudantes, trabalhando com a contagem de dinheiro.

 

Resultados 

No vídeo de apresentação do caso, os professores relataram suas dificuldades, dúvidas e adequações. Esse processo propiciou que os próprios repensassem sua dinâmica de trabalho. Todos chegaram à mesma conclusão, a dificuldade de ser “responsável” pelo aluno de inclusão.

Muitos docentes se descobriram alfabetizadores, artistas, criativos. Perceberam a viabilidade e a importância da parceria com o professor de apoio. Os estudantes com deficiência passaram a ser pauta de reflexão para uma nova forma de ensinar. O mais importante foi perceber o envolvimento da equipe docente no compartilhamento da responsabilidade. Essa experiência positiva servirá de embasamento para a equipe de assistência pedagógica e supervisão desenvolva um trabalho de formação com um novo olhar para uma educação realmente inclusiva.

* Nome fictício para preservar a identidade do estudante.

 
Projeto participante do DIVERSA presencial 2017.

Deixe um comentário