Alunos recriam esportes tradicionais para serem praticados por todos

A Escola Municipal Marumbi está situada no bairro Uberaba, na cidade de Curitiba (PR), e oferece educação infantil e ensino fundamental I para 442 estudantes. Um deles é João, garoto de 7 anos de uma das turmas do 2º ano e que possui transtorno do espectro autista (TEA). Ele e mais 14 crianças de outras unidades da região realizam atendimento educacional especializado (AEE) em nossa sala de recursos multifuncionais (SRM) durante o contraturno. Nos períodos de aula regular, a professora do AEE vai até a escola desses alunos para observá-los e dar suporte aos docentes da sala comum. Apesar dos esforços da educadora, percebemos que grande parte dos professores não tinha nenhuma formação ou orientação para trabalhar com os estudantes público-alvo da educação especial. Por isso, decidimos desenvolver um projeto de esportes flexibilizados para mobilizar a comunidade da Marumbi para a questão da inclusão. Foram dois os eixos de ação: com os docentes e com as crianças.

Formação dos educadores 

Nossa primeira iniciativa foi promover uma palestra sobre autismo com os professores das salas regulares. Na ocasião, a docente do AEE apresentou sugestões de atividades para serem usadas em aula e recursos de tecnologia assistiva, como engrossadores, teclado ampliado, jogos para crianças com baixa visão etc. Depois, recebemos a visita de Rui Menslin, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), que compartilhou conosco seus conhecimentos sobre educação física inclusiva.

Em outro momento, os docentes foram convidados a experimentar alguns dos esportes que haviam sido selecionados para os estudantes. Na quadra, eles praticaram uma versão flexibilizada do vôlei sentado e uma brincadeira de acertar o alvo, na qual um dos participantes é vendado e deve ser guiado por um colega.

Acreditamos que muitos colegas educadores mudaram suas formas de enxergar as pessoas com deficiência, o que aumentou a procura por novos conhecimentos em educação inclusiva. Hoje eles estão mais atentos e dispostos a pensar em soluções pedagógicas, tanto para João, quanto para outros estudantes com dificuldade de aprendizado.

Esportes tradicionais reinventados

Na implementação do projeto com as crianças, priorizamos atividades em que elas poderiam se colocar no lugar uma das outras. Em sala de aula, realizamos uma roda de leitura do livro “Quando conheci Pedrinho”, da autora Fernanda de Oliveira. A obra conta a história da chegada do pequeno Pedro, um garoto cadeirante, a uma nova escola. Lá, ele conhece Ricardinho, colega que se esforça para fazer com que o amigo se sinta bem no novo ambiente.

Após a leitura, a professora de educação física solicitou que as turmas sugerissem atividades que pudessem contar com a participação de todos. Os estudantes registraram suas ideias por meio de desenhos enquanto trocavam ideias sobre como pessoas com deficiência poderiam participar dos jogos de futebol, vôlei, corrida etc. Todos as turmas do ensino fundamental participaram do projeto.

Em quadra, eles praticaram as seguintes atividades escolhidas pelos professores:

• Vôlei sentado: é jogado por dois times de seis jogadores sentados no chão. Cada equipe pode dar três toques na bola antes de passá-la pela rede para atingir a quadra adversária. O contato com o chão deve ser mantido em todas ações;

• Lençobol: os alunos seguram um grande lençol com um furo no meio e devem trabalhar juntos para não deixar a bola cair pelo buraco.

Depois, foi a vez de experimentar os esportes criados pelos próprios estudantes após a leitura de “Quando conheci Pedrinho”:

• Basquete sentado: os passes e arremessos foram realizados com o jogador sentado no chão;

• Futebol com as mãos: as crianças foram divididas em dois times e deveriam levar a bola até o gol adversário engatinhando;

• Handebol com cadeirantes: no esporte praticado no projeto, foi decidido que bater a bola no chão para realizar os passes era uma ação opcional. Assim, uma pessoa cadeirante conseguiria receber e passar a bola enquanto se locomovia.

Todos se envolveram bastante e entenderam a importância de se colocar no lugar do outro. João participou ativamente dos jogos, que tinham como objetivo trabalhar a socialização e a cooperação. Para ele, as atividades foram flexibilizadas com o aumento do tempo para a execução dos movimentos propostos, o acréscimo de explicações das regras e o uso de repetições quando necessário.

Como resultado desse trabalho, verificamos avanços no desenvolvimento de sua autonomia e em suas habilidades de comunicação. Nosso desafio atual é melhorar as estratégias para a alfabetização de João.

Projeto participante do Portas Abertas para a Inclusão 2015.

Deixe um comentário