O modelo nABLE para ambientes inclusivos de aprendizagem

O modelo nABLE adapta o esquema SAMR para o uso em ambientes inclusivos de aprendizagem, onde se encontram uma variedade de alunos com diferentes níveis de habilidades e outras necessidades especiais.

Os diferentes níveis do modelo SAMR são os seguintes:

• Substituição: no nível mais baixo do modelo, a tecnologia atua como um substituto direto e não há nenhuma mudança fundamental nos tipos de tarefas de aprendizagem que ocorrem. Um exemplo seria uma situação em que os alunos passam a digitar suas lições em vez de escrevê-las usando papel e caneta. A tarefa é a mesma, apenas a mídia utilizada mudou.

• Aumento: no próximo nível, há alguma melhoria na funcionalidade, mas a tarefa ainda permanece fundamentalmente inalterada. Para continuar com o exemplo anterior, aqui os alunos iriam usar o corretor ortográfico e um dicionário embutidos em seu programa de processamento de texto para identificar e corrigir erros antes de entregar suas lições.

• Modificação: neste nível, a tarefa de aprendizagem é alterada um pouco, mas não muda em sua essência. Este seria o primeiro passo para ultrapassar a simples melhora do currículo tradicional e buscar transformá-lo. Os estudantes começam a se responsabilizar por sua aprendizagem, fazendo a transição de consumidores do conhecimento para criadores. Por exemplo, eles podem adicionar recursos visuais a seus ensaios, adicionando imagens encontradas na Web para dar vida ao conteúdo.

• Redefinição: neste nível, a tarefa de aprendizagem torna-se cada vez mais orientada para o aluno e há um foco na colaboração. Os alunos não só adicionam imagens que eles próprios fazem com as câmeras de seus dispositivos, eles publicam seus ensaios em um blog onde outras pessoas podem comentar e fornecer feedback. A tarefa torna-se mais autêntica.

Tal como acontece com o modelo SAMR, no nABLE há uma distinção entre um nível básico de integração de tecnologia (acessibilidade e apoios internos) e outro mais transformador, aproveitando recursos multimídia para a expressão e criatividade. Eu uso Expressão e Criatividade para enfatizar a atuação e a voz estudantil como duas forças motrizes para se ter uma experiência mais transformadora ao se utilizar a tecnologia junto aos estudantes que têm necessidades especiais. A premissa básica do nABLE é que estes alunos devem ter os mesmos padrões elevados que os outros e receber as mesmas oportunidades para expressar a sua criatividade.

Agora que eu forneci um amplo esboço do modelo (que pode ser visto na Figura 1), vamos dar uma olhada nos diferentes níveis mais detalhadamente.

O esquema conta com 5 blocos de texto, que representam o processo do modelo Nable. As etapas são divididas em 2 macroetapas: melhoria do professor (representação) e transformação do estudante (ação e expressão). Começando pela melhoria do professor, o fluxo é formado por 3 fases. começando pela avaliação das necessidades e mapeamento de recursos: identificar potenciais barreiras e apoios em ambiente de aprendizagem; a segunda fase representa o acesso a conteúdos e ferramentas: a tecnologia elimina as barreiras que impedem o acesso à informação e comunicação; e a última desta macroetapa corresponde aos apoios e suportes embutidos: a tecnologia inclui apoios que consideram a variabilidade dos estudantes. Já na macroetapa de transformação do estudante, começa com o aproveitando recursos multimídia: a tecnologia fornece vários meios de expressão e termina com a expressão e criatividade: a tecnologia libera o potencial criativo e rompe com a percepção de deficiência.
Figura 1: Modelo nABLE.

Avaliação das necessidades e perfil

A Implementação do nABLE (ou de qualquer modelo) deve começar com um bom entendimento dos pontos forte e fracos e interesses individuais. Uma vez que um perfil detalhado do estudante foi desenvolvido, por meio da colaboração entre pais, professores e outros profissionais treinados, o próximo passo é selecionar o(s) aplicativo(s) apropriado(s) para garantir o acesso à informação e comunicação.

O acesso ao conteúdo e ferramentas

Em um nível mais básico, os estudantes devem ser capazes de perceber e processar as informações antes que possam usá-las. Assim, no nível da acessibilidade, o foco está em eliminar as barreiras à aprendizagem, permitindo aos alunos acessar as informações, apresentadas de vários modos, no formato que melhor lhes convenha, de acordo com os princípios do Desenho Universal para Aprendizagem (DUA).

Apoios e suportes embutidos

Alguns estudantes podem não ter deficiências facilmente identificáveis, exigindo que eles usem recursos de acessibilidade embutidas para acessar o conteúdo. Eles podem precisar de apoios adicionais para tornar mais fácil processar as informações. Para esses alunos, alguns recursos integrados em sistemas operacionais como o que lhes permite selecionar texto, a fim de que seja lido em voz alta. Esse recurso inclui suporte para destacar palavras ajudando-o a acompanhar e decodificar. Com um dicionário incorporado, os alunos podem procurar qualquer palavra desconhecida sem ter que sair do aplicativo para procurar a palavra em um site ou aplicativo separado. Esta capacidade de permanecer dentro do aplicativo para tais tarefas, como procurar uma nova palavra, pode auxiliar os estudantes que seriam poderiam se confundir ao ter que alternar entre aplicativos.

Aproveitando os recursos multimídia para a aprendizagem

Neste nível, o foco está em fornecer aos alunos uma gama de opções para que eles possam mostrar o que aprenderam. Em muitos aplicativos, os alunos podem usar o recurso de voz-para-texto para elaborar trabalhos usando apenas a sua voz para ditar o texto. Os alunos também podem usar as câmeras e microfones embutidos em seus dispositivos móveis para mostrar o que compreenderam por meio da criação de filmes, slideshows narrados e gravações de voz. Para os alunos que têm dificuldade para escrever ou expressar-se por escrito, essas opções podem fornecer uma alternativa muito necessária para a expressão.

Expressão e criatividade

No mais alto nível de integração de tecnologia no âmbito tanto do SAMR quanto do modelo nABLE, o foco continua a ser em fornecer caminhos para a expressão criativa. No entanto, há uma mudança sutil: o foco está no desenvolvimento da expressão do estudante, de forma forte e independente. Grande parte do trabalho é feito com aplicativos voltados para a criatividade. Um objetivo essencial neste nível é romper e desafiar as idéias preconcebidas daquilo que as pessoas com diferentes capacidades podem fazer quando estão habilitadas a usar tecnologia.

Seguindo em frente

As novas tecnologias estão fornecendo uma oportunidade única para pessoas com qualquer nível de habilidade de compartilhar a sua própria voz e tornarem-se defensores poderosos de si mesmos. No entanto, eu acredito que nós ainda temos trabalho a fazer para alcançar o pleno potencial da tecnologia para todos os alunos, incluindo aqueles com necessidades específicas. Um dos principais obstáculos é que as ferramentas de acessibilidade varia entre os aplicativos que os estudantes poderiam usar nos níveis mais elevados tanto so modelo SAMR quanto  do nABLE. Tais ferramentas tendem a ser melhor em aplicativos da Apple (iMovie e GarageBand, por exemplo), mas é menos consistente com aplicativos de terceiros. Como defensores, nós podemos nos tornar protagonistas na melhoria da acessibilidade, alertando os desenvolvedores sobre sua necessidade. Este foi o caso com Book Creator, no qual, depois de uma correspondência entre mim e desenvolvedor do aplicativo, a capacidade de fornecer descrições de acessibilidade para as imagens foi adicionada ao aplicativo. Este apoio vai ajudar a tornar o conteúdo criado com o aplicativo mais acessível para aqueles que são cegos.

Além de buscar que os aplicativos de criatividade tenham suporte completo para a acessibilidade, nós também teremos de repensar a maneira pela qual nós empregamos tecnologias emergentes, de forma a não apenas dar apoio, mas também empoderar as pessoas. Quando a tecnologia é utilizada como uma forma de apoio, ajuda os alunos a completarem as atividades e escolhas do projeto de outras pessoas. Quando é utilizado de uma forma que capacita, é usado pelos alunos para realizar atividades de sua própria vontade e escolha. Como uma pessoa com uma deficiência, encontrar minha própria voz com a ajuda da tecnologia tem desempenhado um papel significativo no meu sucesso acadêmico e profissional. Eu não gostaria de nada mais do que ver outros estudantes terem a mesma oportunidade para que eles também possam se tornar “mais poderosos do que as pessoas pensam”.


Luis Perez é educador, autor, palestrante e consultor em aprendizagem inclusiva, apaixonado por acessibilidade e desenho universal.

© Instituto Rodrigo Mendes. Licença Creative Commons BY-NC-ND 2.5. A cópia, distribuição e transmissão dessa obra são livres, sob as seguintes condições: Você deve creditar a obra como de autoria de Luis Perez e licenciada pelo Instituto Rodrigo Mendes e DIVERSA.

Deixe um comentário